terça-feira, 2 de março de 2010

Viver em Lisboa, trabalhar em Cascais...

Viver em Lisboa, trabalhar em Cascais...era assim a minha vida. Não era o ideal, mas a verdade é que, na altura, era o melhor que se podia arranjar. A maior parte das vezes saía do Metro de Campo Grande, bem cedo, e seguia até ao Cais do Sodré, onde apanhava comboio para Cascais, de onde seguia , de autocarro, para a Quinta da Marinha. A Quinta da Marinha era um local fantástico para trabalhar: o verde que rodeava o recinto dava-me muita tranquilidade, por me fazer lembrar os Açores, e as pessoas pareciam andar sempre felizes. Dinheiro nunca faltou para aqueles lados...
As pessoas acolheram-me muito bem, e os meus alunos pareciam gostar muito de mim. Era da idade de muitos deles, e tratava-os como amigos. Era uma relação diferente. Os meus métodos inovadores ganharam algumas resistências no meio mas não eram impeditivas de continuar desenvolver o meu método de trabalho.
Num qualquer dia de Outubro de 2003, estou eu em casa, na net, já depois de ter chegado da Quinta da Marinha, quando , casualmente, vou falar com uma tal Susana Jethá, madeirense, que estava a gravar o seu primeiro disco numa editora chamada Mundial. Falou-me do processo que a levou lá, do Dono da Editora...e disse-me para lhe ligar, porque, de certeza, conseguiria alguma coisa. Aquilo intrigou-me: seria assim tão fácil?Depois de tanto tempo, estaria a solução numa simples conversa de chat?
A verdade é que, em menos de uma semana, fui a Aveiro ter com o Dono da Editora. Chamava-se Nuno Soares e parecia ser simpático. Foi buscar-me à estacão, pagou-me um lanche, levou-me à editora, em Águeda, e mostrou-me as instalações. Isto passou-se num sábado...era um local pequeno, situado por baixo da casa dos pais...logo à entrada havia inúmeros cartazes de cantores dos quais nunca tinha ouvido falar...na sua maioria pimbas. Não tenho nada contra eles, mas não faz bem o meu estilo...
Depois pediu-me para ir aos estúdios e tocar alguma coisa...entrei, cantarolei durante um minuto e ele pediu-me para sair e levou-me aos escritórios. Ainda me lembro das suas palavras como se fosse hoje:"Bruno, estamos interessados em ti. Este é o contrato que tenho para te oferecer!", ao que mo deu para dar uma vista de olhos. Fiquei petrificado quando percebi que teria de pagar 12.500 euros para assinar, mas foi coisa rápida. Passado o choque inicial comecei logo a pensar como poderia angariar aquele dinheiro...tinha de o angariar...podia não ser um contrato de sonho, mas era uma oportunidade para pôr cá fora a minha música. Desde que fui para Lisboa, no início de 2003, até àquele dia, tinha produzido muitas músicas. Já as tinha em número suficiente e com a qualidade necessária para dare cartas na indústria. Era pelo menos aquilo que pensava...tinham sido meses muito produtivos, ricos em inspiração, fruto, em grande parte, das emocões vividas nos últimos meses...as mudanças tinham tido grande impacto em mim...tanto que cheguei a recorrer a "anti-depressivos".
Regressei de Aveiro obcecado com a ideia de assinar o contrato. Cheguei a Lisboa, falei com os meus pais, que óbviamente me chamaram à realidade e disseram que era muito dinheiro, e comecei a delinear um plano. Era um contrato e tinha de agarrá-lo. Estávamos em fins de Outubro...
Finalmente tomei uma decisão: largar tudo e ir para Sao Miguel procurar parceiros...tinha de conseguir! Despedi-me do cargo de treinador da Quinta da Marinha, por sms logo de manhã (algo de que não me orgulho mas que esteve inerente ao desgaste a que vinha sendo submetida a minha relação com o meu Director Técnico nos últimos dias), e fui-me embora no mesmo dia para São Miguel...
Era agora ou nunca!

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