domingo, 30 de maio de 2010

O Dia da Televisão

Fazer rádios todos os dias é excitante, mas fazer televisão é sempre diferente. No dia 21 de Agosto, precisamente um mês após o início da Digressão Nacional, éramos convidados do "Verão Total", programa da RTP-1. Nesse dia iam transmitir de Piódão, um lugar paradisíaco, muito afastado de qualquer área urbana...e pelo menos a duas horas de Arganil, a primeira cidade
Passámos essa noite em Vila do Conde, de onde saímos bem cedo no já muito massacrado "Renault Clio". O tubo de escape começava a dar sinais de morte lenta (uns dias mais tarde foi substituído) e algumas fugas de óleo não eram bom presságio...mas o carro lá se ia aguentando! O João Pedro (para quem não conhece, é um dos meus melhores amigos, também ele açoriano e estudante em Vila do Conde) seguiu connosco. Ainda passámos em Coimbra para apanhar dois músicos que não conhecíamos e que iam juntar-se à banda que me ia acompanhar.
Feitas as apresentações, partimos rumo a Piódão, numa viagem recambolesca que parecia nunca mais chegar ao fim!
Chegámos ao local do programa às 15:30 e foi a correr para o palco! Foi alucinante! Nem deu tempo para perceber o que se estava a passar! Tocámos uma e depois ainda descansámos um pouco antes de entrar em palco para a segunda...tinha uma esperança tremenda nessa participação televisiva! Passado tanto tempo, continuo a acreditar que alguém vai ver, gostar e contratar...é ridículo, mas a televisão tem esse efeito nos músicos! Ainda que saibamos que é uma hipótese ínfima, isso faz-nos viver!
Terminado o programa, era hora de regressar...mas não havia gasolina! E a bomba mais perto ficava a cerca de duas horas! A única hipótese era chamar o reboque...
Três horas depois, por volta das oito da noite, já sem viva alma, chegava o reboque que nos havia de levar até à Bomba mais próxima! O João Pedro já nos esperava lá, porque tinha seguido com os outros elementos assim que o programa terminou, e foi ao fim de duas horas (por volta das 10!) que nos viu chegar. Abastecemos e seguimos para Vila do Conde, onde havíamos de chegar já madrugada dentro...foi das histórias mais mirabolantes desta Digressão!
Para mais tarde recordar!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu levo no Pacote (parte 2)

Como frisei no último post, a luta contra o sistema instituído é uma tarefa gigantesca, e, no fundo, era isso que me propunha fazer. Correndo todas as rádios, desde as mais centrais às mais distantes, talvez conseguisse criar um burburinho que, mais tarde, desse acesso ao tão desejado reconhecimento.
Há medida que os dias iam passando, íamos conhecendo mais pessoas ligadas ao meio e percebendo cada vez melhor o verdadeiro dilema da música portuguesa, que se resume a isto: as rádios, sobretudo as mais pequenas ou as denominadas locais, vivem da publicidade, e a publicidade só chega se tiverem boas audiências. Ora, como para terem boas audiências têm de passar música popularucha, ou como prefiro chamar, música fácil, o pop fica, à partida, com muito pouco tempo de antena. É óbvio que há excepções, mas, na sua maioria, as rádios são obrigadas a passar o que o povo gosta e o povo, em Portugal, gosta de PIMBA. E o PIMBA, perdoem-me os visados, só existe porque vivemos num país com um atraso cultural muito grande! A crise que se vive não é só financeira: é também (e sobretudo!) de valores!
Naturalmente que a culpa desta situação não é dos locutores, porque estes apenas respondem a ordens superiores. Muitas vezes, em conversas que tínhamos com os microfones desligados, não continham a sua alegria por poder estar a falar de um projecto interessante, com letras e músicas pensadas, e não de projectos descartáveis. Conheci imensos que me contavam histórias hilariantes de "pseudo-cantores" que iam dar entrevistas e nem sabiam do que falar. Mas é assim a indústria...consome quem pode e depois deita fora!
Entre tanta gente interessante que conheci, nunca me hei-de esquecer de alguns episódios : da locutora morena e irreverente que chamava os piores nomes ao Presidente da Câmara enquanto este respondia às suas perguntas (sem que este ouvisse, como é óbvio!) ao locutor que nos deixou um recado na porta da rádio (que era na Vivenda do Padre) a dizer que tinha ido a um funeral e que, por isso, naquele dia, não haveria emissão; da entrevista em que, por só haver um microfone funcional, tive de o dividir com o entrevistador à entrevista em que, por falta de roupa lavada, tive de vestir uma "t-shirt" da Campanha Presidencial de 1986 do Freitas do Amaral e logo me questionaram sobre a minha côr política; da entrevista em que me pediram para imitar o Pauleta à entrevista em que a locutora era invisual e eu ficava mais nervoso do que ela sem saber se iria dar com os botões (apesar de no fim ter ficado provado que era uma profissional de topo!) ; da entrevista em que estavam 40 graus dentro do estúdio à entrevista numa Rádio em que, por não estar lá nenhum locutor, saltou para os microfones um Senhor Bonacheirão muito simpático, que, muito enrascado com os botões, nos disse que nos ia "desenrascar"!
Foram inúmeras as situações hilariantes porque passámos, mas todas elas fizeram parte de uma aventura fascinante que foi andar pelo país a falar de mim, da minha música, dos meus sonhos e dos Açores! Isso já ninguém me tira!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Eu levo no Pacote (parte 1)

À primeira vista parece fácil, mas é muito mais complicado do que se possa fazer crer. Lutar contra o sistema, que era o que estava a tentar fazer, era uma missão titânica e logo nos primeiros dias foi fácil perceber isso mesmo.
As rádios locais fazem o que podem na divulgação da música portuguesa, sendo graças a elas que os artistas nacionais ainda se conseguem manter vivos, ainda que ligados às máquinas, mas daí a dizer que o seu trabalho é pedagógico, vai um grande passo. Nos primeiros dias de estrada o que mais me impressionou, para além de ter que fazer centenas de km por dia, foi a forma quase mecânica como os locutores me faziam as entrevistas. Dava para ver que perguntavam sempre a mesma coisa a todos e que todos, em Portugal, são milhares! Há cantores por todo o lado e todos à procura do seu lugar ao sol! É uma luta desenfreada pelos tais quinze minutos de fama!
Na mesma altura em que estava a fazer a volta a Portugal às Rádios, outra "cantora" estava, também ela, a fazer a promoção do seu novo trabalho. Normalmente, quando chegava a uma rádio, ela tinha lá estado no dia antes e, por isso, vinha sempre à baila o seu nome. Foram dezenas os locutores que, com os microfones desligados, me falaram dela. E ela era (e é!) a Rosinha! Contavam-me que estava a fazer grande sucesso e que a sua música nova "Leva no Pacote" era uma das músicas mais tocadas do Verão!
Para que conste:



...ouvindo, da boca dos próprios responsáveis das rádios, que esta era uma das músicas mais procuradas pelas pessoas, que estava eu a fazer? Teria sido precipitada a minha decisão de fazer as Rádios Locais? Que nível cultural teriam afinal os portugueses? Porque razão ainda haveria espaço para aquela tipo de poluição sonora/intelectual nas Rádios?
Parafraseando Scolari..."e o burro sou eu?"

sábado, 22 de maio de 2010

Primeiros dias na estrada...

Para que as pessoas seguissem mais de perto as incidências desta Digressão Nacional, resolvi criar um BLOG onde pudesse descrever o nosso dia-a-dia na estrada.
Não vou fazer uns transcrição integral de todos, mas deixo aqui o post relativo ao primeiro dia:

"Acabei por chegar a Lisboa apenas à meia-noite e quarenta e cinco...à espera das malas encontrei as irmãs do Pedro Andrade, Rita e Ana Paula Andrade. Com esta última mantive um breve diálogo sobre o actual estado da cultura na região...interessante como gerações diferentes podem convergir em determinados aspectos! No geral, concluí que não sou o único...a pensar a música da forma que penso!

Saímos do aeroporto às 2 da manhã e mete-mo-nos a caminho de Viana do Castelo...onde chegámos

às 9 da manhã...pelo caminho uma paragem numa estação de serviço e um episódio sintomático: ao ver um daquelas caixas de cds ao preço da chuva, de artistas que nunca chegarão a passar de uma fotografia numa capa de um cd, pensei: “Será que acabo assim? Na caixa de uma estação de serviço?"

Comecei por dar uma entrevista no Centro de Viana de Castelo, na Rádio Geice, às 10:30. Como tinha outra entrevista às 11, acabei por me atrasar e chegar à Rádio Barca só perto do meio-dia...a locutora acedeu , ainda assim, entrevistar-me, e foi uma conversa bastante descontraída. Saídos da Barca, mais 50 km para Caminha, onde , pelas 15, dei a última entrevista do dia. A aceitação da música tem sido boa, embora saiba perfeitamente que, se não conseguir entrar nas "play-list" de rádios como a RFM, Antena 3 ou Mega FM...chapéu!


A novidade é a marcação de um Concerto em Coimbra, no dia 14 de Agosto...até lá temos um na FNAC de Viseu, já no próximo sábado, e outro na FNAC de Albufeira, no próximo dia 2 de Agosto...

Neste preciso momento escrevo da Pousada da Juventude de Viana do Castelo...já percorremos, pelas nossas contas, cerca de 1500 km...desde as 2 da manhã...e valha-nos o GPS!

Perguntas mais frequentes das entrevistas? Uma começa a ganhar dianteira: "Quem é Godot?"

Alguém arrisca? ;)"

Terça-feira, 21 de Julho de 2009

In:
http://tour-radios2009.blogspot.com

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Digressão Nacional

Uma vez mais,quando menos esperava, tudo mudou. Com os discos na mão podia ir atrás de apoios para tentar a minha primeira Digressão Nacional...havia agora algo de concreto, algo em que poderia fundamentar a minha pretensão de ir correr o país!
Como sempre, as primeiras entidades que contactei foram a Câmara Municipal e o Governo dos Açores. Fiz-lhes o ponto da situação e manifestei-lhes a minha vontade em percorrer o país com o novo cd. Estava muito confiante que se iriam associar, como de facto veio a acontecer, e, ainda antes de conhecer os seus veredictos, comecei a marcar entrevistas nas Rádios. O plano, esse, era muito simples: comprar um carro barato e bater a todas as portas,desde as grandes cidades às Aldeias mais distantes e isoladas. Estava decidido a levar a minha música onde fosse preciso!
No meio de tudo isto, tinha de contar com um apoio de dentro...e é óbvio que as únicas pessoas a quem poderia pedir essa ajuda era aos meus Pais. Escrevi-lhes (porque sou muito melhor a escrever do que a falar!) e expus-lhes a minha pretensão. Apresentei-lhes um orçamento e, um ou dias depois,transmitiram-me a sua resposta, que ia de encontro aos meus intentos. Não vou falar em números, mas aquilo que recebi deles ultrapassou em larga escala todos os apoios que alguma vez havia recebido até essa data. Pergunto-me se, alguma vez, seria capaz de um acto de tamanho desprendimento e generosidade...
Com as verbas asseguradas, com o disco na fábrica, restava limar as últimas arestas. O Nélson, como sempre, iria acompanhar-me em mais esta Aventura. Iria ser ele o condutor e, muito mais que isso, o meu suporte emocional: desde que comecei mais a sério nestas andanças, ele esteve sempre presente a dar-me força e várias foram as vezes em que acreditou quando até eu já duvidava.
Cheguei a Lisboa na Madrugada do dia 21 de Julho onde já me esperava o Nélson no Renault Clio de 1993 comprado para o efeito. A primeira entrevista que ia dar era em Viana do Castelo, às 10:30, logo não havia tempo a perder. Passámos a noite em viagem...tudo por um sonho!

domingo, 16 de maio de 2010

Salpicos de Música

No início de Abril, com mais um Verão à porta, passava por um momento de completa desinspiração...as hipóteses de lançar o meu segundo trabalho eram cada vez mais remotas e as portas fechavam-se, umas atrás das outras. Continuava a fazer o meu trabalho de casa, enviando "e-mails", questionando diversos agentes musicais, mostrando as minhas músicas a diversas Promotoras e Editoras mas...em vão. Ninguém estava, por enquanto, interessado em aventurar-se na sua edição.
A meados do mês, em dia que não sei precisar, a caminho do Ginásio, encontrei um primo que tem uma empresa de representações. Na altura estava envolvido na produção de uma Colectânea de Solidariedade a favor do Instituto de Apoio à Criança (IAC) dos Açores e, para além de ter escrito e composto o Hino que dava título à mesma, "Unidos Pra Mudar", tinha também ficado encarregue de sondar o mercado e saber do custo de uma edição de 1000 exemplares, que seriam vendidos a um preço simbólico para angariação de fundos. Como sabia que esse meu primo tinha contactos com uma Empresa de Instrumentos sedeada na Quarteira (Algarve), perguntei-lhe se fariam reprodução de discos. Ele telefonou de imediato ao Germano Nunes, proprietário, e a resposta foi afirmativa! Daí à encomenda foi um passo...a "Salpicos de Música" acabou por fazer os 1000 cds a um preço de mercado justo e com a qualidade desejada!
Terminada a minha colaboração nesse projecto de solidariedade, voltava a centrar todas as minhas atenções no meu disco. Continuava na gaveta e, quanto mais tempo passava, mais eu frustrava...foi quando, já no decorrer do mês de Junho, me lembrei de escrever ao Germano Nunes, Dono da "Salpicos de Música". Expus-lhe a minha situação, disse-lhe que o meu fundo de maneio era quase nulo mas que tinha uma fé desgraçada no meu trabalho! Só precisava de alguém que me desse uma oportunidade para o editar...quase imediatamente após ter enviado o "e-mail", recebi uma chamada do Germano a dizer que me ia oferecer 1000 discos e que podia contar com eles prontos já em Julho! Foi daqueles momentos mágicos em que, de um momento para o outro, tudo muda!
Estava de volta ao jogo!

sábado, 15 de maio de 2010

Fascismo cultural!

A resposta do Tózé Brito era bem reveladora do actual estado das coisas em Portugal. Estava (e continua a estar!) tudo muito complicado para os artistas: arriscaria dizer que se vive uma ditadura artística ! Aos novos artistas, desde músicos a actores, passando por todas as outras áreas, chamá-los-ia de dissidentes: reflectem e personalizam novos estilos,tendências e correntes de pensamento censuradas pelo Regime (Grandes Rádios, Televisões,Imprensa Escrita, Produtoras e Promotoras), formador de opiniões, que os cala, com medo de ver desmornar-se o Sistema Instituído, sempre com os mesmos rostos e protagonistas, numa espécie de feudalismo da Idade Média, em que que apenas se produz o que é consumido por eles próprios! Mantendo o povo na ignorância e no completo desconhecimento, moldam-se mentalidades e esconde-se a miséria e prostituição cultural que, cada vez mais, prolifera!
O fascismo continua...na cultura mais do que em qualquer outra vertente!
Eu, que sempre fui muito observador, já tinha percebido isso há muito tempo...agora estava a sentir na pele!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desistir...nunca!

A esta altura do campeonato as coisas não se adivinhavam fáceis: eu sabia, como sempre soube, que por mais boa vontade que o Tózé Brito e o Pedro Vaz tivessem, por si só pouco poderiam fazer...a conjectura económica do país, os downloads ilegais e muitos outros aspectos ligados ao aparecimento das novas tecnologias faziam com que o mercado da música, que em tempos fora dos mais rentáveis, estivesse em queda livre.
Recebi o disco remasterizado no início de Fevereiro, tendo-o logo enviado para o Tózé Brito e para o Pedro Vaz. Assim que o receberam começaram a sondar o mercado e as melhores hipóteses para mim. Passaram-se cerca de dois meses até receber, por parte deles, uma resposta que não queria ouvir, mas que, na verdade, era coerente com a realidade actual:

"De: Toze Brito
Enviada: terça-feira, 14 de Abril de 2009 23:15:23
Para: Bruno Ávila (bruno.avila@live.com.pt)
Cc: Pedro Vaz

Bruno,a coisa está complicada,não parece haver de momento nenhuma editora que dê garantias de uma boa promoção/distribuição disposta a investir um mínimo para o fazer. Editar por editar é matar um álbum e,a ser assim,o melhor é encontrar uma das pequenas independentes - talvez via net - que mesmo sem grandes meios se interesse pelo teu trabalho como ele e tu merecem.Infelizmente não temos contacto com nenhuma das independentes de que te falo,trabalhamos com as majors e as maiores locais...e as portas de todas elas estão por agora fechadas. Honra-nos muito a tua confiança,mas acredita que não depende já de nós conseguir colocar o teu trabalho,são vários os que temos em mãos nas mesmas condições! Vamos continuar a insistir e tentar,mas tudo o que puderes fazer tu próprio fá-lo sem hesitar,este ano vai ser um pesadelo em termos de indecisões e esperas.
Vai dando notícias,faremos o mesmo,a sorte por vezes muda portanto tentemos todos.

Grande abraço amigo,
Tózé."


Era tempo de repensar toda a estratégia...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Disco pronto...regresso a Lisboa!

No dia 8 de Novembro (sábado), o Lino entregou-me o "master"(nome que se atribui ao disco que contém as gravações finais do estúdio). Regressei a Lisboa nesse fim-de-semana com imensas ilusões. À minha espera, na estação de comboios, estava o Delmar (manager) que, minutos mais tarde, seria o primeiro a ouvir as novas canções.
Os meus planos passavam agora por mostrar o fruto do meu trabalho de cinco anos ao Tózé Brito. Tinha sido ele o grande impulsionador anímico deste disco, e, embora sempre me tivesse dito que o mercado não estava fácil e que não valia a pena iludir-me com falsas promessas, também reforçou no seu discurso a ideia de que desistir é para os fracos e de que deles não reza a história!
No dia 11 de Dezembro (quinta-feira) deu-se finalmente a reunião há tanto esperada. Dirigimo-nos (eu e o Nélson) aos Escritórios da MUV (Produtora da qual é sócio-fundador, em parceria com o Pedro Vaz), em Cascais, e fomos recebidos por volta das seis da tarde...escusado será dizer que, por muito que quisessémos controlar as nossas expectativas, estávamos convencidos de que esta uma reunião histórica...que, a partir daí, tudo mudaria...afinal, íamos mostrar um disco ao "HOMEM" da música em Portugal! Intimamente sabíamos que não dependia (só!) dele, mas de toda uma indústria musical...não obstante, se há momentos na vida em que devemos acreditar em tudo, aquele era um deles!
Subimos aos escritórios, cumprimentámos o Tózé e o Pedro Vaz, sentámo-nos e o disco foi imediatamente para a aparelhagem. Ao longo de pouco mais de meia hora (tempo de duração das dez faixas) ficámos ali, a observar cada gesto e olhar que pudesse reflectir algum indício...positivo ou negativo. Não que fosse preciso, porque sabia que no fim teria uma opinião honesta sem elogios demagógicos ou hiper-criticismos, mas as coisas são como são! Foi um momento para nós! Muito andámos para chegar ali...e aquele era, acima de tudo, mais um estímulo para continuar! Na parede um pormenor curioso: o primeiro disco de ouro atribuído a um músico português!
Terminada a audição, foram unânimes em reconhecer a qualidade do trabalho e em dizer-nos que não teriam problema nenhum em dar a cara por ele. Ficou no ar a ideia de que era necessária uma remasterização, uma vez que a voz estavam muito baixa em relação ao instrumental, mas, à parte disso, as primeiras impressões tinham sido extremamente positivas. Assim saímos da reunião, liguei ao Lino e falei-lhe da necessidade de uma remasterização, ao que ele acedeu prontamente, garantindo-me que falaria com um amigo que era perito em masterizações e que este trataria do assunto o quanto antes.
No dia 15 de Dezembro regressei aos Açores...

sábado, 8 de maio de 2010

...as músicas a ganhar forma!

De tudo o que envolve uma gravação em estúdio, a parte mais interessante e excitante é quando começamos a poder levar alguma coisa para casa ao fim do dia para ouvir...no final de Outubro, com as guitarras (Lino), o baixo(Lino),a bateria (Joel) e o piano (gravado pelo meu Pai num dia em que se deslocou de Leiria de propósito para o efeito) gravados, começámos a introduzir a voz, e aí, todos os dias havia alguma coisa para ouvir na viagem de regresso a Aveiro...é quase viciante ouvir algo que imaginámos durante tantos anos! Ouvimos uma, duas, três, cinquenta, cem vezes...nada pode falhar!
No início de Novembro estavam previstas mais duas semanas: uma para acabar as vozes, outra para masterizar...acabaram por ser três!
Com as vozes gravadas e tudo pronto, mudámos de estúdio: passámos de Águeda para Vagos, onde seria feita a masterização e a gravação de algumas (poucas!) vozes que faltavam...e também a música "Talvez", que foi gravada ao mesmo tempo(instrumental e voz) e num único take!
Ao mesmo tempo que davamos os últimos retoques no disco, preparava já uma série de reuniões que contava ter em Lisboa! O objectivo era sair de Aveiro e ir directo aos escritórios do Tózé Brito e do Pedro Vaz, que se mantinham a par das gravações.
Entretanto, quase um mês e meio em Aveiro fizeram com que ganhasse uma série de rotinas diárias que já faziam parte do meu dia-a-dia: estúdios, ginásio e à noite, quando era para sair, ou íamos ver o Lino tocar ou íamos ao "Ria Café"...é uma grande cidade e a sua proximidade com o mar fez-me sempre sentir em casa!
Outra coisa que nunca vou esquecer foi a forma como o Lino e a Rosa (namorada) nos receberam em sua casa: estivemos(eu e o Nélson) lá cerca de um mês e meio e fomos tratados como filhos!
A música é uma linguagem universal...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Estúdio

Se em 2004, quando fomos gravar, nos debatemos com uma enorme falta de profissionalismo, desta feita sabíamos ao que íamos. A experiência era outra, não havia limitação de tempo, uma vez que o estúdio estava por nossa conta e, mais importante que tudo,sabia exactamente que tipo de som queria: queria um álbum rock com nuances pop. Algumas das músicas que ia gravar tinha-as feito ainda antes de gravar o primeiro cd, logo, já tinha tido tempo de as "experimentar" em vários formatos, inclusive ao vivo, em alguns Concertos. Logo, havia uma segurança que em 2004 não existia. Naquela altura peguei nas minhas músicas todas e gravei-as. Desta feita, gravei aquelas que, de entre cerca de vinte, achei que seriam as melhores tendo em conta diversos factores.
As gravações decorreram em bom ritmo...quando há sintonia entre o artista e o produtor é muito mais fácil, e a verdade é que o Lino entende onde e a quem quero chegar com as minhas músicas. Sabe onde colocar o solo de guitarra, a linha de baixo ou o ritmo de bateria mais ou menos elevado...é óbvio que há sempre diálogo entre as partes. E ainda bem porque é, normalmente, através dele, que atingimos a perfeição!
Houve dois temas sintomáticos no que toca ao debate de ideias: "Fumar" e "Só neste chão", curiosamente dois dos três que já tinham sido registados numa maquete gravada na Sala de Ensaios pelo Missing(Miguel), na altura em que ainda era ele o guitarrista. A verdade é que gostava dos temas tal como tinham sido concebidos e achava que tinham um grande potencial comercial. Mas o Lino discordava: achava que podiam ficar ainda melhores e, sem mexer na estrutura base,queria introduzir pequenas alterações na linha melódica e vocal. Depois de algumas horas de experiências, acabei por aceder à sua pretensão por duas razões:

- Por achar que as alterações não poriam em causa a essência das canções;

- Por ter percebido que o Lino estava convencido que, daquela forma, as músicas ficariam mais consistentes e profissionais.

Eu acredito que devemos manter as nossas convicções até ao fim, mas quando se está em Estúdio as decisões têm de ser tomadas a dois. É quase como uma grávida e uma parteira: uma precisa da ajuda da outra. Assim é no estúdio, onde nascem as canções!

terça-feira, 4 de maio de 2010

O início das gravações do novo disco

Terminado mais um Verão, o grande objectivo estava traçado: ia lançar-me para a gravação do meu segundo disco de originais. Era algo que estava em cima da mesa há pelo menos dois anos mas que,só agora, ganhava pernas para andar.A conjectura era propícia: o Lino estava livre e eu tinha desbloqueado recursos financeiros aos quais, até ali, não tinha tido acesso. Tudo se conjugava para, o mais tardar, até ao final do ano, ter dez canções novas prontas a editar.
No dia 13 de Outubro, uma semana depois de terem dado início as gravações (o Nélson esteve lá desde o início a acompanhar o Lino), juntei-me à equipa.Os trabalhos, uma vez mais, decorreram em Águeda, nos estúdios que o Nuno Soares (o Patrão da antiga Mundial) havia construído para fundar a sua nova Editora, que acabou por vender, pouco tempo depois para abrir uma "Agência de Viagens". Apesar de, desta feita, o ter visto muito poucas vezes, uma vez que os estúdios eram no piso inferior ao da Agência, deu para perceber que estava igual: continuava a engendrar esquemas, a dever dinheiro aos seus funcionários e a enganar tudo e todos!Mas isso, desta vez, ia ter de me passar ao lado...o meu único compromisso era com o Lino! Era a ele que ia pagar, era em casa dele que ia ficar e era ele o único e verdadeiro homem da música que conhecia naquela zona...
Chegávamos ao estúdio pelas 10 da manhã e saíamos por volta das 18, regressando a casa do Lino, em Aveiro. Depois ia para o Ginásio e na volta jantava e víamos um pouco de televisão antes de irmos dormir.Esta era a rotina diária...o conteúdo da mesma explicarei depois!