quarta-feira, 31 de março de 2010

O melhor Concerto...a maior decepção!

O Coletti tinha regressado a Lisboa mas deixava atrás um rasto de esperança grandioso...tinham sido dias muito produtivos e as expectativas eram muito elevadas!
Entre nós (Eu, o Miguel, o Nélson e o David), as conversas iam quase sempre dar a uma pergunta inevitável: "Será desta que nos vamos dar a conhecer?"
Os dias foram passando...o facto de estarmos muito motivados fez com que ensaiássemos muito mais e foi esse ritmo que me levou a marcar um concerto mesmo em cima do joelho.
Fazia anos numa sexta-feira e na segunda lembrei-me de falar com um amigo que geria um espaço nocturno. Falei-lhe da hipótese de celebrar os meus anos com um concerto, convidando todos os meus amigos e ajudando-o, ao mesmo tempo, a ter casa cheia...e ele aceitou!
Nos últimos dias de Fevereiro (a 26 se a memória não me falha) demos aquele que é unanimemente considerado pelos integrantes da Banda na altura como o melhor Concerto até então...estávamos todos muito excitados com a ideia de ter uma ou duas músicas na novela "Ilha dos Amores" e isso reflectia-se na nossa forma de tocar...no fundo, o que estava em causa era uma carreira que todos acreditávamos ser possível se as músicas conseguissem obter reconhecimento nacional!
O Concerto foi gravado para a posteridade...nele estreei um tema que tinha feito apenas dois dias antes, "Já não volto atrás", e que considero uma das minhas baladas mais inspiradas.
Como mera curiosidade, recebemos a visita, mesmo antes do início do espectáculo, do Dr.João Bosco Mota Amaral que fez questão de aparecer para me felicitar pelo aniversário (ofereceu-me um disco do Maestro António Carlos Jobim) e desejar muito sucesso para o espectáculo e carreira...estávamos muito perto do topo...e de uma das maiores quedas que me lembro de dar...
Uma ou duas semanas depois estreia finalmente a novela da TVI gravada em São Miguel...estávamos todos colados no ecrã, e assim ficámos desde o primeiro minuto ao último...
...por razões alheias à nossa vontade, e à vontade do próprio Coletti,como mais tarde me havia de confidenciar, ficámos fora da selecção...foi das maiores decepções da minha vida e o sentimento estendia-se ao Miguel, ao Nélson e ao David...os grandes interesses comerciais tinham-se sobreposto à nossa música e era altura de nos questionarmos: " Se nem com o Coletti, que é o "HOMEM", conseguimos, como vamos conseguir?"
...ainda hoje não encontrei resposta...

domingo, 28 de março de 2010

"Se vos tivesse ouvido antes, os 4Taste não teriam existido!"


O início de 2007 começou com novos dados: a TVI ia fazer uma novela nos Açores...e não se falava noutra coisa! Todos os açorianos sonharam, nem que tenha sido por um simples segundo, ser protagonistas da novela...sabia-se muito pouco: a história ia decorrer em São Miguel e iam fazer castings para escolher alguns actores açorianos. Pela primeira vez, nos Açores, míudos e graúdos acorreram em massa aos Estúdios de uma Promotora para tentar a sua sorte...e nós (eu, o Miguel e o Nélson e outros tantos colegas nossos) não fugimos à regra!
Chegados aos castings, foram-nos introduzidos, por mero acaso, alguns dos responsáveis pela Direcção de Actores, entre os quais o actor Rui de Sá. Eu levava o meu primeiro disco para oferecer a alguém da TVI, e foi o que aconteceu. Sabendo que era músico, o Rui perguntou-me se conhecia mais Bandas de cá porque o Ivan Coletti(na foto,do lado direito), na altura Director Musical das novelas, vinha aos Açores dentro de alguns dias para recolher projectos musicais oriundos da região com o intuito de os integrar na Banda Sonora da novela "Ilha dos Amores". Em poucos minutos meteu-me ao telefone com ele e ficou combinado que, quando chegasse, nos íamos encontrar para lhe dar a conhecer projectos novos, com um som actual. É óbvio que ficámos deslumbrados com essa oportunidade, até porque tínhamos, nós próprios, o nosso projecto!
Nos dias que se seguiram falámos com algumas Bandas e pedimos que nos dessem maquetes, que eram na sua maioria gravações de garagem, para que as pudéssemos entregar ao Ivan quando chegasse. E assim foi...recolhemos cerca de uma dezena de Bandas e no dia previsto fomos ter com o Ivan Coletti ao Hotel onde estava a ficar instalada toda a produção. Fomos apresentados (eu, o Miguel e o Chico, um amigo nosso) e passámos à fase de audição das Bandas. Era como se nós próprios fizéssemos parte do "Júri"...foi incrível! Tantos anos à espera de uma oportunidade e agora estávamos com o "Deus" musical das novelas da TVI...desnecessário será dizer que foram dias de grande euforia!
Para além de Senhor de grandes responsabilidades, o Ivan era também uma pessoa afável e muito simpática: convidou-nos mais que uma vez para almoçar, foi conhecer a ilha connosco e acedeu assistir a um ensaio nosso onde proferiu, para quem lá estava e quis ouvir, uma das frases mais intrigantes do meu já longo percurso como músico: "Se vos tivesse ouvido antes, os 4Taste não teriam existido!".Foi uma frase que nos soou nos ouvidos durante muito tempo...ainda hoje aliás! Não que a minha ambição fosse ter um projecto como o dos "4Taste", porque se fosse assim a minha carreira teria terminado quando terminasse a participação nos Morangos, mas a verdade é que, por estarmos longe, já tínhamos , muito provavelmente, perdido dezenas de oportunidades de nos darmos a conhecer...e falo no plural porque, apesar de ser um projecto a solo, nesta altura ,e por estarmos há muito tempo juntos, a nossa ambição era a mesma: o reconhecimento nacional!
O Ivan gostou muito do que ouviu, ficámos muito amigos, ficou a promessa de fazer tudo o que fosse possível para que as músicas passassem nas novelas e, a partir daí, só nos restava esperar...
Se não fosse agora...quando seria?

sexta-feira, 26 de março de 2010

2006

Para poupar quem me lê a relatos insignificantes e porque, na verdade, este foi um ano em que pouco ou nada se passou (literalmente!),dar eco a três acontecimentos que acabaram por ser o alento para continuar.
O primeiro deu-se com a entrada do David Pereira para a bateria...logo nos primeiros ensaios percebemos que se tratava de um grande baterista, embora muito voluntarioso, como todos nós aliás! O Marreta tinha saído e cumprido com aquilo que lhe foi pedido e abria-se agora uma nova ERA com o David...
A segunda nota de destaque deu-se em Agosto, quando decidimos dar um Concerto na nossa Sala de Ensaios para dar a conhecer aos amigos mais chegados alguns dos novos temas que tinham entretanto sido feitos, já com o David ao leme.
O terceiro e último registo desse ano deu-se com a nossa aparição no "Natal dos Hospitais", para apresentar o tema "Parado e Distante". Passámos largas horas a escolher a indumentária de cada um dos elementos. Na noite antes tinha ficado decidido que o Nélson iria com o fato com que se casou, o Missing de calças de ganga e fato, o David de Padre e eu de vestido...eram estilos completamente antagónicos, mas o objectivo era mesmo esse: marcar a diferença. A poucos minutos do início do espectáculo o David liga-me a dizer que se tinha aconselhado com uma pessoa que prezava muito e que tinha decidido deixar o Padre na gaveta...fiquei muito irritado na altura, sobretudo porque achava que o seu compromisso era com a Banda e não com a tal pessoa que o tinha aconselhado...
Não obstante esse "incidente", fomos para o palco e a nossa presença teve o efeito desejado: ficaram todos "colados" na nossa prestação, como documentam as imagens...
2006 foi uma espécie de compasso de espera para o que se seguiria...

terça-feira, 23 de março de 2010

"O que é que tens feito?"

O Concerto do Nordeste foi, durante muito tempo, a última coisa que fiz...2005 tinha tudo para ser o ano do arranque e, sinceramente, foi um dos piores anos da minha carreira. Nos primeiros seis meses o álbum ainda mexeu e, às custas dele, fui às FNACS e dei o Concerto no Nordeste, mas o efeito novidade foi-se perdendo e o impacto que o álbum teve no início diluiu-se completamente...
Com um álbum com menos de um ano completamente esgotado e sem meios monetários para investir, a minha realidade resumia-se, agora, a tocar para as paredes do meu quarto...estava outra vez no "berço" de todas as canções.
Os contactos com todo o tipo de agentes foram uma coisa que nunca deixei de fazer, mas era por demais óbvio que, com o selo da "Mundial", ia ser, logo à partida, conotado com música e o meu disco enviado para o lixo ainda antes de ser ouvido.
Entre amigos e familiares era comum perguntarem-me: "O que é que tens feito?"
Se há muitos anos que abominava essa pergunta, nessa época abominava quem ma fazia...já não percebia se ma faziam por curiosidade ou para, simplesmente, me confrontarem com o facto de estar parado...como se fosse por vontade própria!
A verdade é que, apesar da falta de espectáculos, apesar da desilusão por não ter obtido a notoriedade desejada, apesar da raiva por ter sido enganado, continuava a acreditar firmemente o grande problema era que ainda ninguém conhecia o meu trabalho...
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domingo, 21 de março de 2010

Concerto do Nordeste

O Concerto do Nordeste viria a ser o nosso grande momento de 2005. As FNACS tinham sido importantes, mas para um músico os grandes palcos "arrastam" consigo muito mais emoção. E aquele era um grande palco! Por lá já tinham passado nomes como Silence 4, Santos e Pecadores,UHF, Pólo Norte, GNR, Xutos e Pontapés...enfim...os melhores! E isso era significativo!
O cartaz colocou-nos numa segunda-feira, que era, hipotéticamente, o dia mais fraco ao nível de público em virtude de no dia a seguir as pessoas trabalharem, mas nem isso fez com que a afluência tenha sido fraca. Naqueles primeiros dias de Julho de 2005 dei o meu primeiro GRANDE Concerto em São Miguel...e a nossa prestação, diga-se, não deslustrou!
Tocámos as músicas todas do disco, e, quando acabámos, começou a chover. Já nem deu para voltar e tocar mais algumas...
Com o "cachet" que ganhei nesse Concerto tinha o Verão assegurado, mas a agenda vazia fazia prever uma longa espera sem qualquer perspectiva de trabalho...isso gerava-me uma grande sensação de vazio...

sábado, 20 de março de 2010

Trabalhar para aquecer!

Na volta das Fnacs, concentrei-me em obter respostas às cartas que tinha enviado às autarquias no início do ano. Tinha enviado para todas as dezanove uma proposta, com o disco e o material promocional. Explicava um pouco da minha história e pedia respostas, fossem elas positivas ou negativas.
Ora, em Maio, quando regressei de Lisboa, apenas uma se dignara a responder: a Câmara Municipal do Nordeste , através da Secretária do Presidente, mostrou o seu interesse em comprar o meu espectáculo, interesse esse que, como é óbvio, foi concretizado com a confirmação do mesmo para o início de Julho,inserido nas Festas do Concelho...à parte, não havia mais nenhuma perspectiva de trabalho, o que não era bom, tanto para mim como para a minha carreira que, à data, já não se dissociavam.
Começámos então a ensaiar para esse objectivo, de forma a estarmos todos preparados. Às vezes, de uma boa actuação surgem outras, embora, na minha terra, as pessoas ainda pensem que só os que chegam de fora é que têm direito a "cachet". Quanto a mim, sem nenhuma contrapartida, e em Festas onde no mesmo palco toquem artistas pagos a peso de ouro, não toco!
Entre Maio e Julho, muito pouca coisa se passou: continuava a contactar tudo o que era sítio e entidade. "Sacava" todos os "e-mails", números de telefone e sites que via relacionados com o mundo artístico e enviava cds, cartas, "e-mails"...mas não recebia respostas...era quase como "pregar no deserto"!
Naquele ponto da minha história hesitava entre perseguir o meu sonho a qualquer custo, ou desistir dele e aproveitar as coisas boas da vida. Mas foi uma hesitação que me acompanhou até aos dias de hoje, tendo sempre a balança pendido para a célebre citação: "Nunca desistas dos teus sonhos!".
A verdade é que, à minha volta, as coisas se tinham degradado a olhos vistos: a euforia do lançamento do disco tinha passado, já não tinha o crédito dos primeiros meses em que a expectativa era grande e tinham de me dar o benefício da dúvida e a pressão de familiares e amigos para mudar de vida era uma constante...
...um dia,um "belo" dia que nunca esquecerei, não aguentei mais, e explodi...o silêncio passou a ser um dos meus maiores aliados até aos dias de hoje...
...porque o silêncio...também fala!

terça-feira, 16 de março de 2010

Mini-Digressão Nacional

E depois de muito tinta ter corrido, consegui, finalmente, levar o meu trabalho às FNACS.
Chegámos a Lisboa (eu, o Miguel, o Nélson e o Marreta) numa quinta-feira, alugámos um carro e partimos para o Porto, onde tínhamos dois espectáculos marcados: Santa Catarina (sexta-feira à tarde) e Norte Shopping (sexta-feira à noite). As minhas expectativas eram as óbvias: encontrar alguém ou fazer algum contacto que me proporcionasse dar um passo em frente. E dar um passo em frente, seria assinar um contrato com uma promotora que pudesse, finalmente, divulgar o meu trabalho a uma grande escala. Mas os concertos foram decorrendo sem que nenhum "golpe de teatro" se registasse...o mais interessante foi mesmo o do Norte Shopping, que, por se realizar à noite, teve uma sala bastante composta...
Cumprida a Agenda no Norte, regressámos a Lisboa, onde nos esperavam mais dois espectáculos: um num "Bar" em Santos, denominado "Berro",no Domingo, e o outro na FNAC do Colombo, no dia a seguir. Uma vez mais, demos a volta completa ao reportório que compunha o 1º disco, tendo contado no público com a presença de vários amigos dos vários elementos da Banda. Tanto no "Berro" como no Colombo obtivemos boas críticas, mas isso era muito pouco...aliás, toda a Digressão, apesar de termos cumprido com o que nos era exigido, que era dignificar o nome dos Açores, tinha sabido a pouco...por não ter feito qualquer contacto com agentes de espectáculos, por ter voltado à minha Ilha sem saber quando iria regressar e por estar, óbviamente, mais "pobre" em termos de "budget" para investir. Tinha elevado as expectativas ao máximo e estava seguro de que esta saída seria determinante para lançar definitivamente o "Longa-Metragem" no panorama musical português. Ao invés, regressei com a certeza, quase absoluta, de que, ou acontecia um milagre, ou este meu primeiro trabalho estava condenado ao fracasso comercial.
...na volta, "agarrei-me" muitas vezes a uma passagem de uma música minha:

"...com tanto medo e insegurança
onde vai tudo isto parar
devo ter eu esperança
ou parar pra recomeçar
passo no culto e resignado
ajoelho-me perante o vulto
à procura de um futuro mais feliz
e de uma vida sem passado..."

...

domingo, 14 de março de 2010

Fnacs novamente na Agenda!

2005 começou sem grandes motivos de euforia: o disco perdia o fulgou à medida que o tempo passava e as perspectivas de trabalho eram diminutas. Ainda assim comecei o ano decidido a fazer alguma coisa para arranjar Concertos.
Durante vários dias fiz um trabalho de pesquisa, arranjei os contactos das Comissões de Festas dos maiores Festivais de Verão dos Açores e enviei uma carta, com um cd e um "Press-Release" para todas as 18 autarquias da Região, e para algumas do Continente...
No mês de Fevereiro participámos num Concerto de Solidariedade a favor do Instituto de Apoio à Criança, naquele que seria o último do Pedro Andrade enquanto baterista da Banda. Motivos profissionais e falta de tempo estiveram na base do seu afastamento. Era um duro golpe uma vez que o considerava, e continuo a considerar, o melhor baterista dos Açores. Mas a vida tinha de continuar...
Com as FNACS em perspectiva, tinha de arranjar um baterista que se juntasse a nós o quanto antes, de forma a estarmos prontos para o desafio. Havia várias hipóteses, mas a minha escolha recaiu sobre alguém com quem já almejava tocar há algum tempo: o Ricardo Reis (conhecido no meio por Marreta). Era um músico experiente, que tinha visto tocar pela primeira vez quando ainda nem sabia pegar numa guitarra, por fazer parte de uma Banda que as minhas irmãs seguiam onde quer que fosse, os LSD (Louvado Seja Deus).
Os primeiros ensaios pós-Pedro Andrade custaram muito: o Marreta teve de se familiarizar com as músicas e isso ainda levou alguns dias, embora, pelo seu talento, rápidamente entrado no ritmo.
Em meados do mês de Março,o Delmar (Manager) voltou a marcar as FNACS para o início de Maio. Com as datas confirmadas, começámos a apontar baterias para os Concertos: mais ensaios, mais reuniões e, acima de tudo, mais concentração. Era um objectivo importante demais para ser menosprezado!

sábado, 13 de março de 2010

Chegou o apoio...

No decorrer do mês de Dezembro, os ensaios continuavam...não havia grandes objectivos e as FNACS estavam ultrapassadas...
Certo dia, no Clube de Ténis, o Pai de uma tenista que conhecia falou-me sobre um apoio que me tinha sido atribuído para a música. Eu disse-lhe que sim, que vinha no âmbito da promoção do meu primeiro disco, no Verão. Mas, segundo ele, o despacho do Governo era muito mais recente...datava de Dezembro!
Desconfiei que se tratava da verba que tinha pedido para as Fnacs...e era mesmo! Chegou "fora-de-horas", mas voltava a estar em cima da mesa o assunto "Fnacs"...era necessário remarcar datas e explicar aos responsáveis portugueses da "multi-nacional" francesa que só agora tinha tido acesso ao patrocínio que nos levaria ao Continente.
Noutro plano, actuámos no "Natal dos Hospitais" dos Açores, actuação que, uns dias mais tarde, foi transmitida em Directo para todo o Mundo via RTP-Internacional...a formação continuava a mesma: eu, o Miguel, o Nélson e o Pedro...nesse dia resolvi ir de pijamas, assim como o Nélson, de forma a deixar os doentes mais à vontade...se estavam de pijamas, nós também, e a Festa poderia continuar de igual para igual...
Em Dezembro não havia avanços: continuava a contactar todos os agentes musicais espalhados pelo país mas não havia maneira...estava a perder a esperança...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Fnacs falhadas e fim de contrato...

No início de Outubro há outra janela que se abre: as FNACS...após alguns contactos abreviatórios, recebemos o convite efectivo para ir tocar a alguns auditórios da "multi-nacional" francesa, num périplo que incluía as do Norte e a do Colombo...a verdade é que estava completamente falido e era impensável pedir mais dinheiro aos meus Pais...ainda assim, com a confiança que me acomete nestas alturas, resolvi expôr o assunto a quem de direito. Escrevi novamente ao Presidente do Governo Regional dos Açores e disse-lhe, abertamente, o que se passava...como não queria declinar o convite, aceitei, à partida, marcar as datas, mesmo sem saber se seria ou não possível cumpri-las. Os espectáculos seriam em meados de Novembro e eu achava que era uma óptima oportunidade para, uma vez mais, levar o nome dos Açores mais longe...estava convencido disso!
Infelizmente não tive em conta que, mesmo que a resposta do meu Presidente fosse positiva, nunca teria acesso ao apoio antes de Dezembro...ainda tentei conseguir o dinheiro às custas de uma acção de promoção que visava vender discos em quantidade suficiente para me deslocar , com a minha Banda, ao Continente, mas estava tudo muito em cima...arrisquei, e perdi!
Lembro-me perfeitamente de ir a várias Lojas do Comércio Tradicional, quase a mendigar para me darem 15 euros em troca de um cd e do nome numa "t´shirt" onde inscreveria todos os patrocinadores...mas foram todos de uma sovinice paranormal...de registar duas que acederam de imediato: a "Estoril Desporto" e a "Londrina"...perdoem-me se me esqueço de alguma, mas, sinceramente, quer-me parecer que foram as únicas...e é sintomático, porque tanto uma como a outra são das poucas que, hoje, perante a morte lenta das vendas, conseguem resistir...
Passada a frustração de ter falhado as datas das FNACS, outro episódio melindroso: tinha decidido, sem avisar os meus Pais, cancelar os dois últimos cheques, no valor de 2084 euros, relativos às duas últimas prestações com a Editora. O Nuno não tinha cumprido com a sua parte e eu não cumpriria, definitivamente, com a minha. Havia de ganhar dinheiro, mas não às minhas custas! Infelizmente, ele confirmou os seus dotes de ludibriador e, sem que soubesse, ligou aos meus Pais que, como pessoas honestas que são, se prontificaram a pagar tudo o que devia...fizeram-no sem eu saber, porque, eu(!), estava convicto que já tinha pago muito mais do que aquilo que devia...
Quando soube que os meus Pais tinham tentado "proteger-me" nesta acção litigiosa, questionei-os...e dei origem a uma terrível e acesa discussão! Eles agiram de boa fé, mas a verdade é que não sabiam da história a metade...fiquei muito chateado, sobretudo por os ter feito gastar mais dinheiro...decididamente, tinha conhecido o maior aldrabão de que há memória, alguém que deveria ser banido para sempre do mundo do espectáculo, que só me deu problemas (pessoais e profissionais) desde que entrou na minha vida...a mim e a todos aqueles em que tocou...repito: aquele Senhor estragou a vida a dezenas de pessoas...a única coisa boa é que o contrato tinha chegado ao fim!
A partir de Dezembro estava por minha conta e risco...

Regresso a São Miguel

Regressei a São Miguel no início de Setembro...já muito pouco havia para fazer em Lisboa e o dinheiro começava a chegar ao fim...literalmente!
Ter um disco nas mãos e "enfiar-me" em São Miguel pode ser considerado, por muitos, uma atitude comodista, mas tudo o que tinha de fazer agora era passar horas à frente do computador a fazer contactos e auto-promoção do meu disco, e isso podia fazer em casa.
O Verão tinha acabado, Concertos, em princípio só para o ano, e eu estava com uma bruta "ressaca" depois de um ano, a todos os níveis, invulgar. Precisava de recuperar as minhas rotinas de forma a atingir índices aceitáveis de estabilidade emocional, algo que não tinha há muito tempo...
Estar em São Miguel permitiu-me, também, começar a ter ensaios regulares com a Banda que me acompanhou nos Concertos: o Pedro, o Miguel e o Nélson residiam todos em São Miguel, e duas vezes por semana íamos ensaiar em casa do Miguel, uma fantástica Quinta situada num meio rural a todos os níveis inigualável. Senti, pela primeira vez, os efeitos terapêuticos de ter uma Banda e poder tocar duas vezes por semana com uma sonoridade muito próxima da de um Concerto.
Mas o cd continuava sem aceitação nos principais canais de divulgação: as rádios, as televisões, as promotoras, ninguém me dava respostas...e sabia que não era pela qualidade do trabalho. Eu insistia, ligava, falava com pessoas do meio...mas a única explicação lógica que me davam, era a de que a minha editora era uma editora "pimba" e, como tal, conotada com música que, à partida, não tinha qualidade. Isso chegava para que qualquer disco pertencente àquele selo fosse imediatamente enviado para a reciclagem sem sequer ser analisado. E foi, com toda a certeza, o que aconteceu ao "Longa-Metragem".
O mês de Setembro foi também o mês em que o disco chegou aos Açores. É curioso registar que as vendas, no início, foram interessantes. Muitos curiosos e amigos quiseram perceber do que se tratava...depois de alguns cartazes promocionais terem sido colados pela cidade de POnta Delgada, muitos pensaram tratar-se de um filme, em virtude do nome do álbum...e era, de facto, um filme...que ainda ia no início!
Pelo meio, outra contrariedade: de concerto marcado, com tudo combinado para ir à Madeira, eis que um tal João Quintino, promotor do evento, desliga o telemóvel e não nos diz mais nada...ficámos tolos!
No dia 25 de Setembro, no Bar "Ala-Bote", Concerto de Estreia do "Longa-Metragem" na minha terra: muitos amigos e conhecidos num espectáculo que deveria ter sido transmitido para todo o mundo, via internet...mas, devido a problemas técnicos, isso não viria a acontecer...foi só mais um revés...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Promoção nas Rádios Nacionais

Terminados os Concertos que tinha agendado para aquele Verão, regressei a Lisboa. Tinha , para o início de Agosto, marcadas algumas entrevistas em Rádios que iam desde Braga até Lisboa, e cumpri esse périplo, uma vez mais, às custas de um grande investimento dos meus Pais e de um apoio que recebi por parte do Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César. No decorrer do mês de Julho, se a memória não me falha, tinha tomado a iniciativa de lhe escrever pessoalmente a fim de lhe explicar tudo o que já tinha feito e o que tencionava ainda fazer. Expliquei-lhe que não era minha intenção fazer deste um disco para amigos e conhecidos mas um disco com projecção à escala nacional, o que requeria muito dinheiro. Pedi-lhe um apoio no sentido de fazer uma promoção condigna e, tempos mais tarde, recebi o seu aval. A Presidência do Governo ia apoiar-me com 2000 euros, o que seria suficiente não só para fazer as Rádios como também para contribuir com mais algum dinheiro para o pagamento de outra prestação. É óbvio que o teor da carta ao meu Presidente foi muito para além do simples pedido de apoio, tendo apresentado, em monólogo, muitos dos meus pontos-de-vista relativos à política cultural e desportiva da minha Região, mas isso ficará entre nós. O mais importante , em todo este processo, é que ele percebeu as minhas razões e eu consegui retribuir todo o dinheiro em mim investido, não só através da divulgação da marca "Açores", como através da minha música que estava a passar nas Rádios de Portugal mais profundo, onde, de outra forma, muito provavelmente, nunca se falaria das "Ilhas de Bruma".
Em cada viagem que fazia, em cada noite passada nas Residenciais mais estranhas, onde a minha única companhia era o meu violão, tinha sempre bem presente que estava quase em "missão de estado": o Presidente tinha delegado em mim (em sentido figurado, como é óbvio!) a tarefa de elevar a bandeira dos Açores onde quer que fosse. Foi com esse espírito que fiz horas de viagem de comboio, autocarro, táxi e muitas vezes a pé...sempre com a bagagem toda às costas!
As entrevistas andavam quase sempre à volta de ter vindo de tão longe para promover a minha música. Passava a maior parte da entrevista a falar dos Açores e a aceitação dos temas deixava antever uma boa saída para o mercado. Como os discos tinham, entretanto, chegado da fábrica,e eu, por contrato, tinha direito a 750, ia oferecendo alguns às Rádios por onde passava, na esperança de que pudessem explorar outras faixas que não as do single. Mas logo ali comecei a perceber outra coisa: para chegar a algum lado tinha de entrar nas grandes rádios nacionais, vulgo RFM, MegaFM, Antena3, Comercial...eram rádios fundamentais e absolutamente estratégicas, mas só ao alcance das grandes editoras...o sistema começava a ditar leis e eu começava a ver que, passado o impacto inicial, ou caía nas boas graças de alguém verdadeiramente influente, ou o disco não passaria de mais um entre centenas de milhares de discos esquecidos em caixas de estações de serviço a dois euros e meio cada um...era terrível, mas a verdade era essa!

Cais Agosto

Só quando cheguei ao Pico é que o resto da Banda teve a certeza que iria haver espectáculo. O Miguel (guitarrista) disse-me, uns dias depois, que estiveram numa ansiedade permanente sem saber se ia ou não chegar a tempo...
Os meus Pais conduziram-me a casa do meu Tio Rui Pedro, que vive em São Roque, local das festividades, para aí ensaiar, com a minha Tia Olguinha, a música que iria tocar comigo a piano, "Tu e eu num só segredo"...em pouco mais de vinte minutos, ensaiei, jantei e mudei de roupa...era perfeito poder passar naquela casa os últimos minutos antes de subir ao "Palco dos Sonhos". Tornava as coisas o mais natural possível...quase todos os anos era daquela casa que saía para ir ver os grandes Concertos, só que, desta vez, era eu próprio a actuar!
Cerca das 22:30 estavamos todos juntos nos bastidores...eu, o Miguel, o Pedro, o Nélson e o Delmar, a mesma equipa de São Jorge, concordámos que aquele seria um dos maiores Concertos das nossas carreiras e que a concentração teria de ser total...mas ia ser difícil. Uns minutos antes, meti a cabeça para espreitar e vi milhares de pessoas...nunca me senti tão insignificante...e ao mesmo tempo, confesso, tão importante.
Foi neste embróglio de emoções de que subi ao palco...o Concerto começou e acabou...básicamente...tocámos cerca de uma hora e as imagens que guardo são muito poucas...passou tudo a correr...estive demasiado absorvido para disfrutar, mas lembro-me de pensar que, apenas um ano antes, estava entre o público...e de ver as minhas primas/os lá à frente, a vibrar e a cantar...essa é capaz de ter sido a grande recordação!
Terminado o espectáculo muita gente veio ter connosco para nos felicitar.A minha família estava lá em peso!
Conseguimos dar uma imagem muito positiva do meu primeiro disco (que iria sair em breve) e isso deixou-me muito feliz!
Tocar no Pico será sempre tocar em casa...no berço mais profundo da minha existência!

domingo, 7 de março de 2010

Dias Loucos!

Regressado a São Miguel, tinha de me preocupar com duas coisas: com o Concerto do Pico, uma semana depois, e com a viagem que, antes ainda de ir para o Pico, tinha de fazer a Lisboa para participar no "Olá Portugal", da TVI, e no "às duas por três", da SIC.
Parti na segunda-feira, fiz algumas entrevistas em Rádios da Linha de Cascais, aproveitei para rever alguns amigos, e, quarta-feira, era o dia do reencontro com o Manuel Luís Goucha no "Olá Portugal". Cerca de um ano e meio antes tinha-lhe escrito um "e-mail" para que me desse uma oportunidade, por isso não deixava de ser simbólico fazer a estreia nacional do meu primeiro disco no mesmo programa e com a mesma equipa. Depois de uma breve entrevista, o Goucha convidou-me a cantar a música "Pra Qualquer Mundo" ... e nos três minutos e pouco que tinha a canção, passou-me o filme do último ano e meio. Como tudo começou, o que tinha passado, quem me tinha ajudado, quem tinha ficado para trás...e sabia que havia muitos olhos postos em mim, sobretudo nos Açores. Foi o meu momento, e não o deixarei de recordar para sempre!
Na sexta-feira o dia prometia ser preenchido: tinha de estar na SIC às 3, no aeroporto às 4 para apanhar avião para o Pico e actuar às 21:30, no Cais Agosto...o Concerto com que sempre sonhara!
Acontece que na SIC as coisas atrasaram e lembro-me perfeitamente do Frederico Santos(Director Musical dos programas da SIC) ter vindo ter comigo e dizer-me que talvez o melhor fosse adiar para outra data. Eu já sabia o que custava ir à TV e, uma vez que ali estava, ia tocar, mesmo sabendo que poderia perder o avião e, consequentemente o Concerto...foi de loucos!
Voltei a tocar a música "Pra Qualquer Mundo", depois de apresentado pelo José Figueiras e pela Fernanda Freitas, e no fim levantou-se o Diogo Morgado para me tecer alguns elogios relativos à minha persistência e combatividade. Mas a minha cabeça já estava no Pico...
Acabei na SIC às 4:15, de onde saí a correr para o aeroporto...a meio caminho ligam-me da SIC a dizer que me tinha esquecido da passage...volto atrás e nisto aproxima-se a hora do vôo...cheguei ao aeroporto às 17;15, numa hora em que os passageiros já estavam todos dentro do avião...havia uma fila enorme e , não sei como, passei à frente daquela gente toda, a senhora fez-me o check-in e mandou-me ir a correr para o avião...mas o mais incrível é que ninguém me fez nenhum reparo...foi como se estivesse tudo programado para ser assim! Foi como se soubessem todos que tinha de me despachar porque tinha um concerto!
No Pico já tinham feito teste de som por mim e persistia a dúvida se iria ou não estar presente...não tive tempo de avisar ninguém...mas a verdade é que estava a caminho...
Aterrei no Faial, apanhei boleia do aeroporto para a Marina da Horta, onde apanhei o Barco para o Pico...cheguei por volta das 8:30, onde me esperavam os meus PAIS...tinha uma hora para me preparar para o maior espectáculo da minha vida!

A Grande Estreia!

Para o primeiro concerto, em São Jorge, tinha convidado o Miguel Carvalho, para a guitarra e o Pedro Andrade, para a bateria. No baixo o Nélson tinha, como sempre teve e terá, o seu lugar cativo desde o primeiro momento em que decidi gravar o disco. O Miguel era um velho amigo e já acalentava o desejo de tocar com ele há uns anos...o Pedro era, e continua a ser, o melhor baterista dos Açores! Tinha, portanto, bons músicos para a minha estreia...
O Concerto estava inicialmente marcado para uma terça-feira, 22 de Julho, mas acabou adiado para quinta, devido à forte chuva que se fez sentir. Aquilo que se passou nestes dias foi, sem dúvida, um presságio para a minha carreira.
Adiado o Concerto de terça para quinta, o Pedro e o Nélson tiveram de voltar para São Miguel de forma a não perderem dias de trabalho, voltando depois na quinta. Eu, o Miguel e o Delmar(Manager da Banda que seguiria, a partir daí, para todos os Concertos), ficámos, tendo,na quarta-feira, viajado até ao Pico de barco, numa viagem que não iremos esquecer, de tão má que foi em virtude do mar agitado que apanhámos! Foi tão mau, que a previsão era regressar no mesmo dia e resolvemos voltar, apenas, na quinta-feira, dia do Concerto.
Chegada quinta-feira, novas peripécias: o Nélson e o Pedro não conseguiram vir directamente para São Jorge, tendo ido parar ao Pico, para depois, de barco, perfazerem o resto da viagem, chegando mesmo em cima do teste de som.
Chegada a hora do Concerto, subimos ao palco...fui apresentado pelo meu Tio e Padrinho, Sidónio Bettencourt, o que teve um grande simbolismo para mim. Ter uma estreia apadrinhada por alguém que esteve connosco ao colo não é para todos...
Relativamente à nosso prestação, não foi brilhante: muitos nervos, alguma falta de entrosamento, as cordas da minha guitarra rebentaram e, na falta de uma substituta, o espectáculo foi interrompido para que o Miguel colocasse outras...foi assim um desfilar de peripécias que em nada contribuiu para o êxito da nossa apresentação oficial...
Ainda assim há algo que fica: quem esteve, gostou e sentiu que havia sumo...e nós, no palco, sentimos isso!
No fim do espectáculo recebi o cheque de 1000 euros que serviria para pagar as viagens ao Pico, na semana a seguir!
No dia do regresso a São Miguel, nova situação no mínimo insólita: o Nélson foi agredido pelo responsável do Aldeamento turístico onde nos instalaram...chegou ao aeroporto com sangue na cara!
Foi a última nota de destaque de um Concerto que só valeu por ter sido o primeiro e pelo carinho que a Organização nos dispensou...
...aguardo ansiosamente um convite para lá voltar!

sábado, 6 de março de 2010

Regresso a Águeda

No início de Junho voltei a Águeda. O objectivo era acompanhar de perto a conclusão do trabalho de estúdio e pressionar o Nuno para que o enviasse o mais rápido possível para a Fábrica, de forma a ter os discos no mercado ainda durante o Verão de 2004.
Quando cheguei aos estúdios, as gravações estavam concluídas, faltando apenas a masterização e alguns ajustes aqui e ali...pormenores...
Foi então que, por mero acaso, questionei o Lino sobre a hipótese de acrescentar uma faixa escondida ao Álbum...era uma música diferente porque, pela primeira, e até hoje, única vez, tinha saído em brasileiro. Lembro-me, na altura em que a fiz, de querer expressar-me sobre algo muito triste mas em tom festivo ...e a única forma de cantar tristezas em tom de festa , é fazê--lo em brasileiro...foi exactamente isso que pensei! Ainda assim, e por destoar muito de todos os outros temas, resolvi incluí-la no cd como faixa escondida...logo depois da última música, aos 3:31...o Nuno não queria alinhar no esquema, por dizer tratar-se de algo ilegal, mas "que se lixe o Nuno!" pensei eu! Já estava farto das suas histórias, eu e todos os empregados que com ele trabalhavam, embora ninguém fosse frontal o suficiente para o dizer na sua cara!
A gravação de "Paulinha" foi, no mínimo, estranha: para reduzirmos ao máximo a captação de som, de forma à minha voz ficar o mais a seco possível, montou-se uma espécie de tenda, dentro do próprio estúdio, feita com cobertores. Eu cantava debaixo dos cobertores e , uma vez mais, o Lino mostrava o seu enorme talento e criatividade como produtor!
Concluída "Paulinha", passou-se à fase dos detalhes e masterização, seguindo-se a impressão dos singles, que eu próprio ajudei a fazer, e dos cartazes e postais de promoção.
Pelo meio um telefonema meu à DECO, para me informar sobre a legalidade do meu contrato. O Nuno soube-o, e isso só fez com que se apercebesse que não estava a lidar com nenhum tolo...tinham acabado os cinismos: àquele ponto, ele já sabia que o tomava por mentiroso compulsivo e eu já sabia que ele se queria ver livre de mim o quanto antes...isso só me ajudou a apressar o processo de conclusão do disco!
Entretanto foram enviados os singles promocionais (com as músicas Pra Qualquer Mundo e Parado e Distante) para cerca de 200 rádios nacionais e estrangeiras...estava , assim, dado o pontapé de saída no disco "Longa-Metragem", nome por mim escolhido para personificar aquilo que, era meu desejo, fosse o início de uma longa e bem sucedida história no mundo da música!
No dia 15 de Julho, voltei a São Miguel para ensaiar para o Concerto de São Jorge, seis dias depois. Os ensaios já tinham começado sem mim, por isso quando cheguei as coisas estavam já bastante adiantadas.
Estava prestes a estrear-me num grande palco...a Longa-Metragem ia começar!

Nota de esquecimento...

Algo que me faltou relatar da viagem ao Pico: de uma reunião com o vereador Paulo Maciel, da Câmara Municipal de São Roque do Pico, saiu a marcação daquele que seria o concretizar de um sonho: um Concerto no Cais Agosto, no final de mês de Julho...ficou acordado que seria a custo zero e, perante a inoperância do Sr.Vereador, a quem devo, mesmo assim, a minha ida ao Pico, adiantei que pagaria as passagens para lá ir tocar...sendo assim, ficava acordado que pagaria para actuar no Cais Agosto...
Confesso que, na altura, não fazia a mínima ideia de como o iria fazer...mas isso não interessava para nada. O importante é que ia actuar na minha Ilha, perante a minha família e amigos de longa data...ali, onde tinha assistido a alguns dos melhores Concertos da minha vida, não tanto pela qualidade das Bandas, mas pela magia do Verão no Pico!
No final de Maio, outro Concerto é marcado: ligou-me o Sr. Hélio Serpa, a mostrar o seu interesse na minha contratação para as Festas da Calheta de São Jorge, em São Jorge. Ficou acordado um cachet de 1000 euros...e já tinha dinheiro para pagar as viagens para o Pico!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tudo tem um porquê!

Estava em completo estado de ebulição...não há palavras para descrever a pressão que estava a carregar em cima dos ombros. Era um contrato que não estava a ser cumprido por parte da editora, eram os aldrabões com quem me tinha metido, era o dinheiro para pagar o disco que continuava a sair da algibeira dos meus PAIS...estava tudo a correr mal...e nem um disco que trouxe de Águeda, com as músicas meio prontas, meio por acabar, serviam para acalmar os ânimos. A esta altura do Campeonato já tinha de contar com a legítimo desconfiança de todos...com razão!
E como é habitual nestas alturas em que tudo corre mal e só me apetece fugir, "exilei-me" no Pico...o meu refúgio da Paz! Lá, aconteça o que acontecer, sinto-me protegido e em paz! A minha família paterna reside, na sua maioria,lá, e é de lá que emergem os momentos mais felizes da minha vida!
Foram quinze dias importantes, não só por estar rodeado de familiares e amigos, como também por ter marcado o fim de um ciclo, um ciclo de um ano em que me mudei para Lisboa, lutei para a concretização de um sonho, assinei um contrato discográfico e fui para estúdio...independentemente da forma como as coisas estavam a decorrer, tinha conseguido ir para estúdio "eternizar" as minhas canções, e isso significava bastante para mim...
Decorria o dia 18 de Abril, se a memória não me falha, quando, finalmente, e vencendo as burocracias destes processos, vi cair na minha conta os 3750 euros. Ufff...que alívio...estava muito longe de poder pagar tudo, mas podia, finalmente, ajudar os meus Pais. Com aquele dinheiro pagaria três prestações...acho que foi um dos dias mais felizes desde que assinei o contrato e comecei a ver que as coisas não eram tal e qual eu pensava que fossem...
Terminado o exílio, regressei a São Miguel e estive cerca de dois meses a "pastar"...sem tirar nem pôr. Tinha o ténis e a musculação, ocupava muitos dos meus dias a tentar escrever alguma coisa, mas era inútil. Por essa altura estava tudo a querer saber o que se passava na minha vida. Tinha 20 anos, a minha rotina diária não era convencional, estava prisioneiro de um contrato que estava a ser catastrófico para mim e tinha envolvido os meus Pais nisto...podia ser pior?
Pelo meio, e uns dias antes de receber o apoio Governativo, um telefonema do Banco a avisar que tinha a conta a descoberto e que tinham de descontar um cheque de 1042 euros...é óbvio que esta situação só aconteceu porque a ocultei dos meus Pais, que nunca permitiriam que tal acontecesse...mas a minha estratégia,nessa altura, já passava por cancelar os cheques até ter o trabalho nas mãos...
Foi uma "salgalhada"...e não tinha necessidade nenhuma de me ter metido nisto. Estava metido com pessoas do mais baixo nível! O Nuno era, oficialmente, um bandido...um vendedor de sonhos! Mas tinha uma longa batalha pela frente até ter o disco nas mãos...de Abril a Junho, altura em que fui novamente para Águeda atrás do meu disco, porque caso contrário seria permanentemente ludibriado com desculpas, passaram-se oito semanas...todos os dias me pesava o facto de ter sido enganado, o facto dos meus Pais estarem a gastar uma pipa de massa e o facto de, uma vez mais, as minhas promessas e óptimismo desmensurado me ter levado a uma situação lastimável...para piorar, os meus índices de frustração estavam elevados ao máximo...foram tempos muito complicados...muitas noites sem dormir, muitos dias sem saber o que fazer...na minha cabeça só me ocorria um pensamento: "Tudo tem um porquê!"
E tem!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Assinei com o Pinóquio!

Cheguei a Águeda no dia 2 de Março de 2004...esperava ter o trabalho de pré-produção feito de forma a acelarar todo o processo. Mas, surpresa das surpresas, quando cheguei, estava tudo por fazer. Não sei se a culpa era do João, se do Nuno, mas já estava com todos pelos cabelos. Naquela altura do Campeonato já me tinha apercebido que me tinha metido com autênticos mercenários, e, apesar de tirar o João deste lote, porque era boa gente, também não fez o seu trabalho de casa como devia ter feito.
Sendo assim, passei a primeira semana toda na recepção, com o João e um orgão a tirar as notas e a ver que roupagem poderiam ter as músicas...aqui é preciso ter em atenção que, para além dos 12.500 euros(valor do contrato), tive de ser eu a suportar todas as despesas de alimentação e estadia...era o cúmulo!
No início da segunda semana continuava na recepção com o João e as coisas estavam por um fio...mas como não sou pessoa de me chatear, liguei ao Nélson. O Nélson era(e é!) um velho amigo, músico, que me seguia de há uns anos a esta parte. Perguntei-lhe se gostaria de vir para estúdio comigo, com as despesas pagas, como é óbvio, por mim. Disse-lhe que me estavam a enganar e precisava de uma pessoa astuta, como ele, para o negócio. É que o meu primeiro disco tinha deixado de ser um sonho e passado a ser um negócio! O Nélson tinha uma Loja de Tatuagens e Piercings e sabia bem como lidar com pessoas como o Nuno...o objectivo é que fosse o meu Manager e intercedesse pelos meus interesses...que acabariam sempre por ser os nossos, uma vez que ele já era, à data, o meu baixista oficial. E assim foi!
Assim chegou o Nélson, o João foi imediatamente afastado do trabalho. Não sei se a culpa era dele ou não, mas o disco não andava para a frente e tempo era dinheiro. Uma vez mais, estavam os meus Pais a suportar todas as despesas, uma constante ao longo de toda a vida uma vez que, de todos os 3 irmãos, fui sempre o que lhes deu mais despesas. Primeiro no ténis, e agora na música, eles embarcaram comigo em todos os sonhos e faço-lhes justiça por isso!
Mas voltando às gravações, chegado o Nélson, reunimo-nos logo com o Nuno. A maminha tinha de acabar. Fomos ao escritório, falámos com o Nuno e fomos muito claros: as músicas, tal como estavam a ser produzidas, não podiam ser gravadas. Era necessário fazer tudo outra vez. Chamou-se o João e foi-lhe transmitido isso mesmo! Na altura ainda tentámos voltar a dar-lhes outra roupagem, mas, certo dia, na hora de almoço, tive oportunidade de falar com o Lino Vinagre, que estava a produzir outros trabalhos mas estava sempre atento a tudo o que se passava na Editora. Disse-me:" Bruno, o trabalho tal como está está uma m....!". E era também aquilo que pensava! Com todo o respeito que a pessoa do João me merecia!
O Lino pegou na guitarra e começou a mostrar-me umas ideias que tinha...e era aquilo! Completamente! Tinha de ter o Lino a produtor para conseguir fazer com que o sonho de gravar um disco não se transformasse num completo pesadelo.
Isso mesmo foi trasmitimos ao Nuno, que acedeu (uma das poucas vezes em que o fez). Assim sendo, tudo o que tinha sido feito até ali ia para o lixo. Tinha perdido uma semana e meia a fazer coisas que não iam servir para nada! Mas antes assim...!
Na altura em que começámos a gravar com o Lino deu-se outra mudança importante: mudámo-nos de armas e bagagens de uma Residencial para...o Estúdio! Ficámos a dormir cerca de uma semana no Estúdio de Gravação e era muito frequente acordarmos com a nossa música a tocar, uma vez que o Lino chegava, ligava as máquinas e dava-lhe som...é daquelas coisas que não se esquecem!Nos dias seguintes o Lino convidou-nos para dormir na casa dele e esse seria o início oficial de uma amizade que perdura até aos dias de hoje!
A partir do momento em que o Lino pegou no trabalho, as coisas começaram a andar mais depressa. Ele pensava, gravava e metia as vozes em cima! Era práctico e virtuoso, simplificava em vez de complicar! Mas as coisas nunca foram tranquilas...
Uma Editora como a Mundial, gerida por alguém que, a esta distãncia, só posso considerar um aldrabão, funcionava mais ou menos assim: os artistas assinavam com o Nuno, e o Nuno, que só tinha um estúdio e aceitava todos os trabalhos, ia gerindo as coisas conforme a paciência das pessoas. Nunca havia um dia em que pudesse estar no Estúdio tranquilamente sem ter de sair para que alguém, já sem paciência, gravasse a música que lhe havia sido prometida à meses. Ele deixava ir tudo até ao limite, inventava as desculpas mais esfarrapadas que alguma vez ouvi, mas sempre com cara de Santo. Impressionante como é que alguém pode ser tão hipócrita! Mas era com ele que, erradamente, me tinha metido! Agora só tinha um caminho: ir até ao fim e tentar ficar com o melhor trabalho possível!
Os trabalhos foram decorrendo, sempre com as interrupções de que falei, até que, na última semana, o Nuno nos avisou que o nosso tempo de estúdio tinha acabado porque outro grupo teria de começar a gravar...faltavam 4 músicas, e foi aí que perdemos a qualidade. No primeiro disco há duas fases distintas: até à música cinco nota-se uma qualidade muito superior do que da música seis à dez. Exactamente por, na última semana, não termos tido estúdio. Tinha de ser tudo gravado à pressa, já madrugada dentro, quando os outros artistas iam embora...foi uma autêntica palhaçada! Mas enfim...
A 25 de Março, juntamente com o Nélson, apanhei o comboio para Lisboa, não sem antes ter estado até às 3 da manhã a gravar as últimas vozes...regressámos a São Miguel no primeiro vôo da manhã, completamente estafados...física e emocionalmente...tinha-me metido com um tipo que vendia sonhos sem os poder concretizar! Tinha dívidas com meio mundo, explorava os empregados, não cumpria com a sua palavra, mentia com quantos dentes tinha na boca...e lá estava ele! Com belos carros, uma casa principesca e rindo de todos! Como eu, foram dezenas de artistas enganados...
O pior é que as gravações estavam terminadas, mas o trabalho não. O Lino ainda tinha de gravar as guitarras, de masterizar e de fazer alguns acrescentos nas músicas...na minha cabeça, estava tramado! Tinha de ter o disco pronto em Abril para marcar espectáculos e , com o mês de Março a terminar, ainda nem as músicas estavam prontas...era dos piores pesadelos da minha vida!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Uma longa espera!

Era a primeira vez que estava sob a alçada de um contrato profissional, e logo para gravar um disco.Na última semana de Novembro voltei a Lisboa para me encontrar pessoalmente com o Nuno Soares (Dono da Editora) e com aquele que seria o produtor do meu disco, o João Noro. Fui até Águeda e, chegado à Editora, fui para o Estúdio gravar uma guia das minhas canções(com voz e violão). Foi também nesse dia que conheci o Lino Vinagre, um dos maiores talentos musicais que conheci até hoje e que se viria a tornar num verdadeiro amigo e num dos principais protagonistas da minha história. Na altura, produzia música PIMBA na Mundial, era guitarrista dos ANGER e dava aulas de guitarra numa escola de Aveiro.
Mas voltando à guia, gravei as músicas apenas para o João(que seria o produtor) ter uma percepção do que era o meu som e poder começar a trabalhar nele.Em dez minutos estavam as coisas resolvidas! Depois das despedidas voltei a Lisboa, na esperança de entrar em estúdio brevemente...em Dezembro encontrar-me-ia, no Colombo, com o Nuno Soares(Dono da Editora) para lhe entregar 12 cheques pré-datados, cada um no valor de 1042 euros. Seriam descontados no início de cada mês numa conta que tinha ganho como prémio pela vitória num Torneio de Ténis, no Banco Espírito Santo.
Em meados de Dezembro voltei a São Miguel para as férias de Natal e comecei a achar estranhas certas atitudes do Nuno Soares. Ligava-lhe a perguntar como estavam a decorrer os trabalhos de pré-produção e a resposta era sempre a mesma:"Está tudo a correr bem, não te preocupes. O João está a tratar de tudo!"...nesse mesmo mês de Dezembro fiz, em colaboração com a Ana Lopes (www.ana-lopes.com) o meu primeiro vídeo-clip, uma experiência engraçada, amadora, com poucos meios.
Mas de Águeda, e da Editora, não havia notícias...Dezembro...Janeiro...Fevereiro...e sempre a mesma conversa...estava tudo a andar, mas estava a pagar há quatro meses e não tinha absolutamente nada a que me pudesse agarrar...estava desesperado...como ainda não tinha recebido as verbas relativas ao apoio da Direcção Regional da Juventude (algo normal, uma vez que os processos levam o seu tempo a ficar concluídos),os meus Pais é que estavam a pagar as mensalidades. Uma vez mais, tinha sobrado para eles. A Câmara já tinha feito o pagamento, e essa verba foi imediatamente usada para pagar uma prestação e meia, mas já tinham vencido quatro...
Foram meses absolutamente frustrantes...todo o meu plano de ter o disco cá fora em Abril, de forma a poder arranjar Concertos para o Verão tinha caído por terra...e sendo assim, onde iria eu buscar dinheiro para pagar o resto das prestações?Tinha de apertar com o Nuno...àquela data, já tinha percebido que era um mentiroso compulsivo. Tinha-me enganado nos timings, continuava a mentir-me e era oficial que me tinha metido com um "cigano" da pior espécie. Ainda assim, na minha cabeça, continuava a ser possível: o sucesso do meu trabalho dependia, em muito, daquilo que conseguisse fazer e da qualidade das músicas, e disso estava eu seguro.
Em meados de Fevereiro encostei-o contra a parede e disse-lhe que, ou entrava em estúdio no início de Março, ou cancelava os cheques. Foi o suficiente para ele me dar ouvidos...
No início de Março fui para Águeda começar as gravações...foi o início de outro pesadelo...

Apoios precisam-se!

Um pouco contra a vontade dos meus Pais, para não dizer mais do que isso, voltava a São Miguel.E, uma vez mais, alicerçando o meu futuro em Castelos de Areia. Dizer que ia tentar arranjar apoios era muito pouco, sobretudo depois do investimento inicial que fizeram para conseguir ir para Cascais trabalhar...mas eu era assim. Metia uma coisa na cabeça e ia tudo à frente.
A primeira coisa que fiz quando cheguei à ilha, foi contactar com as entidades competentes, vulgo, Câmara Municipal, na pessoa da sua Presidente Dra. Berta Cabral, e Director Regional da Juventude, na pessoa do Dr. Rui Bettencourt, que já conhecia em virtude de ter organizado uma Festa para a Associação de Estudantes, por ele apoiada.
Enviei-lhes uma carta, a explicar a situação e pedi-lhes urgência numa resposta, fosse ela positiva ou negativa. E as coisas não demoraram muito a resolver-se...
Cheguei a São Miguel no início de Novembro, e apenas dois dias depois de ter enviado as cartas, recebi uma chamada de um número que não conhecia. Era a Dra. Berta Cabral, a pedir-me para me encontrar com ela no seu Gabinete, nos Paços do Concelho. Sentia-me honrado por tanta atenção, e no mesmo dia, ao fim da tarde, recebeu-me, com grande simpatia. Depois de uma reunião em que lhe tentei explicar os termos do contrato e ela me fez ver as dificuldades económicas porque passava a Câmara, ela deliberou que a Câmara me apoiaria com uma verba no valor de 1750 euros (não é nenhuma inconfidência, uma vez que são verbas públicas). Era muito bom, mas precisava de mais...
No dia seguinte reuni-me com o Dr. Rui Bettencourt e, uma vez mais, expliquei os termos do contrato que me propuseram, apelando à sua visão abrangente para apoiar um projecto que poderia trazer um retorno enorme à região caso fosse bem estruturado. No final, ficou acordado que a Direcção Regional da Juventude patrocinaria o disco com uma verba no valor de 3750 euros, algo que, à partida, já me permitia sonhar. Tinha reunido apoios na ordem dos 5.500 euros em apenas uma semana. Ainda me faltavam 7000 euros, mas na minha cabeça, gravado o disco, teria o Verão de 2004 para dar espectáculos e conseguir o resto do dinheiro. Avisei os meus Pais que as coisas tinham corrido bem e transmiti-lhes que, em princípio, ia avançar.
Quando regressaram do Continente, foi-me enviado o contrato por fax e assinei-o, devolvendo-o, novamente por fax, a 19 de Novembro, numa quarta-feira. Foi estranho. As coisas estavam a passar-se todas de forma muito abstracta...mas agora com o contrato assinado esperava começar a andar para a frente...

terça-feira, 2 de março de 2010

Viver em Lisboa, trabalhar em Cascais...

Viver em Lisboa, trabalhar em Cascais...era assim a minha vida. Não era o ideal, mas a verdade é que, na altura, era o melhor que se podia arranjar. A maior parte das vezes saía do Metro de Campo Grande, bem cedo, e seguia até ao Cais do Sodré, onde apanhava comboio para Cascais, de onde seguia , de autocarro, para a Quinta da Marinha. A Quinta da Marinha era um local fantástico para trabalhar: o verde que rodeava o recinto dava-me muita tranquilidade, por me fazer lembrar os Açores, e as pessoas pareciam andar sempre felizes. Dinheiro nunca faltou para aqueles lados...
As pessoas acolheram-me muito bem, e os meus alunos pareciam gostar muito de mim. Era da idade de muitos deles, e tratava-os como amigos. Era uma relação diferente. Os meus métodos inovadores ganharam algumas resistências no meio mas não eram impeditivas de continuar desenvolver o meu método de trabalho.
Num qualquer dia de Outubro de 2003, estou eu em casa, na net, já depois de ter chegado da Quinta da Marinha, quando , casualmente, vou falar com uma tal Susana Jethá, madeirense, que estava a gravar o seu primeiro disco numa editora chamada Mundial. Falou-me do processo que a levou lá, do Dono da Editora...e disse-me para lhe ligar, porque, de certeza, conseguiria alguma coisa. Aquilo intrigou-me: seria assim tão fácil?Depois de tanto tempo, estaria a solução numa simples conversa de chat?
A verdade é que, em menos de uma semana, fui a Aveiro ter com o Dono da Editora. Chamava-se Nuno Soares e parecia ser simpático. Foi buscar-me à estacão, pagou-me um lanche, levou-me à editora, em Águeda, e mostrou-me as instalações. Isto passou-se num sábado...era um local pequeno, situado por baixo da casa dos pais...logo à entrada havia inúmeros cartazes de cantores dos quais nunca tinha ouvido falar...na sua maioria pimbas. Não tenho nada contra eles, mas não faz bem o meu estilo...
Depois pediu-me para ir aos estúdios e tocar alguma coisa...entrei, cantarolei durante um minuto e ele pediu-me para sair e levou-me aos escritórios. Ainda me lembro das suas palavras como se fosse hoje:"Bruno, estamos interessados em ti. Este é o contrato que tenho para te oferecer!", ao que mo deu para dar uma vista de olhos. Fiquei petrificado quando percebi que teria de pagar 12.500 euros para assinar, mas foi coisa rápida. Passado o choque inicial comecei logo a pensar como poderia angariar aquele dinheiro...tinha de o angariar...podia não ser um contrato de sonho, mas era uma oportunidade para pôr cá fora a minha música. Desde que fui para Lisboa, no início de 2003, até àquele dia, tinha produzido muitas músicas. Já as tinha em número suficiente e com a qualidade necessária para dare cartas na indústria. Era pelo menos aquilo que pensava...tinham sido meses muito produtivos, ricos em inspiração, fruto, em grande parte, das emocões vividas nos últimos meses...as mudanças tinham tido grande impacto em mim...tanto que cheguei a recorrer a "anti-depressivos".
Regressei de Aveiro obcecado com a ideia de assinar o contrato. Cheguei a Lisboa, falei com os meus pais, que óbviamente me chamaram à realidade e disseram que era muito dinheiro, e comecei a delinear um plano. Era um contrato e tinha de agarrá-lo. Estávamos em fins de Outubro...
Finalmente tomei uma decisão: largar tudo e ir para Sao Miguel procurar parceiros...tinha de conseguir! Despedi-me do cargo de treinador da Quinta da Marinha, por sms logo de manhã (algo de que não me orgulho mas que esteve inerente ao desgaste a que vinha sendo submetida a minha relação com o meu Director Técnico nos últimos dias), e fui-me embora no mesmo dia para São Miguel...
Era agora ou nunca!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Lá e cá...cá e lá...

Em Junho regressei a São Miguel para jogar o Campeonato Regional de ténis...era um objectivo importante que perseguia há muitos anos. Já havia ganho todos os escalões, so me faltando mesmo o de absolutos que, a ser conquistado, seria o meu 11 título de Campeão dos Açores...bem disse, melhor o fiz. Ganhei e , com isso, passei a fazer parte de um lote restrito de jogadores que conseguiram ganhar em todos os escalões.
O Verão foi quase todo passado nos Açores, de festival em festival, vendo concertos e sonhando, um dia, poder subir aos palcos mais emblemáticos. Lembro-me, perfeitamente, de estar a ver um Concerto do Jorge Palma, no Cais Agosto, um dos Grandes Festivais, e pensar: "Um dia serei eu!". Estava longe de imaginar que, apenas um ano depois, lá estaria para apresentar o meu 1 cd. Mas até aí chegar, muita tinta ia ainda correr...
Com o Verão a terminar, fui convidado por um amigo de longa data, responsável pelas minhas primeiras actuações no tempo da Canto da Maia, a participar numa passagem de modelos da MPT Models, uma Agência de moda que vinha do Continente para levar a cabo um Concurso de jovens Modelos. Não era modelo, mas o facto de já ter desfilado algumas vezes fez-me aceitar o desafio. Durante uma semana convivi, de perto, com rapazes e raparigas cujo sonho era serem modelos (algo que não era, de longe, um objectivo para mim) e pude aperceber-me do vazio que eram as suas vidas. Lutavam como cães para serem os preferidos dos responsáveis máximos da Agência e alguns deles, era notório, nunca iam chegar a lado nenhum. Eu corria por fora e o simples facto de estar ali fez com que me apercebesse, pela primeira vez, do quão superficial pode ser o mundo do espectáculo. A maior parte dos aspirantes não passam de "lambe-botas" profissionais...
Foi também nessa semana que conheci um dos actores portugueses mais conhecidos da actualidade, o Diogo Morgado. Falei-lhe da minha música, dos meus projectos e recebi, da parte dele, grande receptividade para me ajudar. Foi um estímulo fundamental nessa altura...não só porque se tratava de uma pessoa que admirava e estava habituado a ver na televisão, como porque, logo ali, me falou na possibilidade de me introduzir a diversas pessoas ligadas ao mundo da música, nomeadamente ao Rui Veloso. Era uma luz...
Essa semana terminou e o meu futuro era, novamente,uma incógnita. Mais um ano lectivo prestes a começar e eu tinha de decidir se voltava a Lisboa ou se optava pela estabilidade.
Entretanto, e nos dias que se seguem, surge um convite para ir dar treinos de ténis para a Quinta da Marinha. Uma vez mais, e sempre com a ajuda dos meus Pais, que me adiantaram algum dinheiro para o efeito, parti para Lisboa. O objectivo era, estando mais perto dos grandes centros de decisão, continuar a bater às portas e estar atento a todas as oportunidades. Estava (como estarei sempre) profundamente agradecido aos responsáveis do Clube de Ténis da Quinta da Marinha, que me abriram as portas e deram uma oportunidade, mas a minha prioridade continuava a ser a música...começava aqui uma nova etapa. Era a primeira vez que estava a trabalhar fora dos Açores...