quinta-feira, 4 de março de 2010

Assinei com o Pinóquio!

Cheguei a Águeda no dia 2 de Março de 2004...esperava ter o trabalho de pré-produção feito de forma a acelarar todo o processo. Mas, surpresa das surpresas, quando cheguei, estava tudo por fazer. Não sei se a culpa era do João, se do Nuno, mas já estava com todos pelos cabelos. Naquela altura do Campeonato já me tinha apercebido que me tinha metido com autênticos mercenários, e, apesar de tirar o João deste lote, porque era boa gente, também não fez o seu trabalho de casa como devia ter feito.
Sendo assim, passei a primeira semana toda na recepção, com o João e um orgão a tirar as notas e a ver que roupagem poderiam ter as músicas...aqui é preciso ter em atenção que, para além dos 12.500 euros(valor do contrato), tive de ser eu a suportar todas as despesas de alimentação e estadia...era o cúmulo!
No início da segunda semana continuava na recepção com o João e as coisas estavam por um fio...mas como não sou pessoa de me chatear, liguei ao Nélson. O Nélson era(e é!) um velho amigo, músico, que me seguia de há uns anos a esta parte. Perguntei-lhe se gostaria de vir para estúdio comigo, com as despesas pagas, como é óbvio, por mim. Disse-lhe que me estavam a enganar e precisava de uma pessoa astuta, como ele, para o negócio. É que o meu primeiro disco tinha deixado de ser um sonho e passado a ser um negócio! O Nélson tinha uma Loja de Tatuagens e Piercings e sabia bem como lidar com pessoas como o Nuno...o objectivo é que fosse o meu Manager e intercedesse pelos meus interesses...que acabariam sempre por ser os nossos, uma vez que ele já era, à data, o meu baixista oficial. E assim foi!
Assim chegou o Nélson, o João foi imediatamente afastado do trabalho. Não sei se a culpa era dele ou não, mas o disco não andava para a frente e tempo era dinheiro. Uma vez mais, estavam os meus Pais a suportar todas as despesas, uma constante ao longo de toda a vida uma vez que, de todos os 3 irmãos, fui sempre o que lhes deu mais despesas. Primeiro no ténis, e agora na música, eles embarcaram comigo em todos os sonhos e faço-lhes justiça por isso!
Mas voltando às gravações, chegado o Nélson, reunimo-nos logo com o Nuno. A maminha tinha de acabar. Fomos ao escritório, falámos com o Nuno e fomos muito claros: as músicas, tal como estavam a ser produzidas, não podiam ser gravadas. Era necessário fazer tudo outra vez. Chamou-se o João e foi-lhe transmitido isso mesmo! Na altura ainda tentámos voltar a dar-lhes outra roupagem, mas, certo dia, na hora de almoço, tive oportunidade de falar com o Lino Vinagre, que estava a produzir outros trabalhos mas estava sempre atento a tudo o que se passava na Editora. Disse-me:" Bruno, o trabalho tal como está está uma m....!". E era também aquilo que pensava! Com todo o respeito que a pessoa do João me merecia!
O Lino pegou na guitarra e começou a mostrar-me umas ideias que tinha...e era aquilo! Completamente! Tinha de ter o Lino a produtor para conseguir fazer com que o sonho de gravar um disco não se transformasse num completo pesadelo.
Isso mesmo foi trasmitimos ao Nuno, que acedeu (uma das poucas vezes em que o fez). Assim sendo, tudo o que tinha sido feito até ali ia para o lixo. Tinha perdido uma semana e meia a fazer coisas que não iam servir para nada! Mas antes assim...!
Na altura em que começámos a gravar com o Lino deu-se outra mudança importante: mudámo-nos de armas e bagagens de uma Residencial para...o Estúdio! Ficámos a dormir cerca de uma semana no Estúdio de Gravação e era muito frequente acordarmos com a nossa música a tocar, uma vez que o Lino chegava, ligava as máquinas e dava-lhe som...é daquelas coisas que não se esquecem!Nos dias seguintes o Lino convidou-nos para dormir na casa dele e esse seria o início oficial de uma amizade que perdura até aos dias de hoje!
A partir do momento em que o Lino pegou no trabalho, as coisas começaram a andar mais depressa. Ele pensava, gravava e metia as vozes em cima! Era práctico e virtuoso, simplificava em vez de complicar! Mas as coisas nunca foram tranquilas...
Uma Editora como a Mundial, gerida por alguém que, a esta distãncia, só posso considerar um aldrabão, funcionava mais ou menos assim: os artistas assinavam com o Nuno, e o Nuno, que só tinha um estúdio e aceitava todos os trabalhos, ia gerindo as coisas conforme a paciência das pessoas. Nunca havia um dia em que pudesse estar no Estúdio tranquilamente sem ter de sair para que alguém, já sem paciência, gravasse a música que lhe havia sido prometida à meses. Ele deixava ir tudo até ao limite, inventava as desculpas mais esfarrapadas que alguma vez ouvi, mas sempre com cara de Santo. Impressionante como é que alguém pode ser tão hipócrita! Mas era com ele que, erradamente, me tinha metido! Agora só tinha um caminho: ir até ao fim e tentar ficar com o melhor trabalho possível!
Os trabalhos foram decorrendo, sempre com as interrupções de que falei, até que, na última semana, o Nuno nos avisou que o nosso tempo de estúdio tinha acabado porque outro grupo teria de começar a gravar...faltavam 4 músicas, e foi aí que perdemos a qualidade. No primeiro disco há duas fases distintas: até à música cinco nota-se uma qualidade muito superior do que da música seis à dez. Exactamente por, na última semana, não termos tido estúdio. Tinha de ser tudo gravado à pressa, já madrugada dentro, quando os outros artistas iam embora...foi uma autêntica palhaçada! Mas enfim...
A 25 de Março, juntamente com o Nélson, apanhei o comboio para Lisboa, não sem antes ter estado até às 3 da manhã a gravar as últimas vozes...regressámos a São Miguel no primeiro vôo da manhã, completamente estafados...física e emocionalmente...tinha-me metido com um tipo que vendia sonhos sem os poder concretizar! Tinha dívidas com meio mundo, explorava os empregados, não cumpria com a sua palavra, mentia com quantos dentes tinha na boca...e lá estava ele! Com belos carros, uma casa principesca e rindo de todos! Como eu, foram dezenas de artistas enganados...
O pior é que as gravações estavam terminadas, mas o trabalho não. O Lino ainda tinha de gravar as guitarras, de masterizar e de fazer alguns acrescentos nas músicas...na minha cabeça, estava tramado! Tinha de ter o disco pronto em Abril para marcar espectáculos e , com o mês de Março a terminar, ainda nem as músicas estavam prontas...era dos piores pesadelos da minha vida!

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