sexta-feira, 5 de março de 2010

Tudo tem um porquê!

Estava em completo estado de ebulição...não há palavras para descrever a pressão que estava a carregar em cima dos ombros. Era um contrato que não estava a ser cumprido por parte da editora, eram os aldrabões com quem me tinha metido, era o dinheiro para pagar o disco que continuava a sair da algibeira dos meus PAIS...estava tudo a correr mal...e nem um disco que trouxe de Águeda, com as músicas meio prontas, meio por acabar, serviam para acalmar os ânimos. A esta altura do Campeonato já tinha de contar com a legítimo desconfiança de todos...com razão!
E como é habitual nestas alturas em que tudo corre mal e só me apetece fugir, "exilei-me" no Pico...o meu refúgio da Paz! Lá, aconteça o que acontecer, sinto-me protegido e em paz! A minha família paterna reside, na sua maioria,lá, e é de lá que emergem os momentos mais felizes da minha vida!
Foram quinze dias importantes, não só por estar rodeado de familiares e amigos, como também por ter marcado o fim de um ciclo, um ciclo de um ano em que me mudei para Lisboa, lutei para a concretização de um sonho, assinei um contrato discográfico e fui para estúdio...independentemente da forma como as coisas estavam a decorrer, tinha conseguido ir para estúdio "eternizar" as minhas canções, e isso significava bastante para mim...
Decorria o dia 18 de Abril, se a memória não me falha, quando, finalmente, e vencendo as burocracias destes processos, vi cair na minha conta os 3750 euros. Ufff...que alívio...estava muito longe de poder pagar tudo, mas podia, finalmente, ajudar os meus Pais. Com aquele dinheiro pagaria três prestações...acho que foi um dos dias mais felizes desde que assinei o contrato e comecei a ver que as coisas não eram tal e qual eu pensava que fossem...
Terminado o exílio, regressei a São Miguel e estive cerca de dois meses a "pastar"...sem tirar nem pôr. Tinha o ténis e a musculação, ocupava muitos dos meus dias a tentar escrever alguma coisa, mas era inútil. Por essa altura estava tudo a querer saber o que se passava na minha vida. Tinha 20 anos, a minha rotina diária não era convencional, estava prisioneiro de um contrato que estava a ser catastrófico para mim e tinha envolvido os meus Pais nisto...podia ser pior?
Pelo meio, e uns dias antes de receber o apoio Governativo, um telefonema do Banco a avisar que tinha a conta a descoberto e que tinham de descontar um cheque de 1042 euros...é óbvio que esta situação só aconteceu porque a ocultei dos meus Pais, que nunca permitiriam que tal acontecesse...mas a minha estratégia,nessa altura, já passava por cancelar os cheques até ter o trabalho nas mãos...
Foi uma "salgalhada"...e não tinha necessidade nenhuma de me ter metido nisto. Estava metido com pessoas do mais baixo nível! O Nuno era, oficialmente, um bandido...um vendedor de sonhos! Mas tinha uma longa batalha pela frente até ter o disco nas mãos...de Abril a Junho, altura em que fui novamente para Águeda atrás do meu disco, porque caso contrário seria permanentemente ludibriado com desculpas, passaram-se oito semanas...todos os dias me pesava o facto de ter sido enganado, o facto dos meus Pais estarem a gastar uma pipa de massa e o facto de, uma vez mais, as minhas promessas e óptimismo desmensurado me ter levado a uma situação lastimável...para piorar, os meus índices de frustração estavam elevados ao máximo...foram tempos muito complicados...muitas noites sem dormir, muitos dias sem saber o que fazer...na minha cabeça só me ocorria um pensamento: "Tudo tem um porquê!"
E tem!

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