sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu levo no Pacote (parte 2)

Como frisei no último post, a luta contra o sistema instituído é uma tarefa gigantesca, e, no fundo, era isso que me propunha fazer. Correndo todas as rádios, desde as mais centrais às mais distantes, talvez conseguisse criar um burburinho que, mais tarde, desse acesso ao tão desejado reconhecimento.
Há medida que os dias iam passando, íamos conhecendo mais pessoas ligadas ao meio e percebendo cada vez melhor o verdadeiro dilema da música portuguesa, que se resume a isto: as rádios, sobretudo as mais pequenas ou as denominadas locais, vivem da publicidade, e a publicidade só chega se tiverem boas audiências. Ora, como para terem boas audiências têm de passar música popularucha, ou como prefiro chamar, música fácil, o pop fica, à partida, com muito pouco tempo de antena. É óbvio que há excepções, mas, na sua maioria, as rádios são obrigadas a passar o que o povo gosta e o povo, em Portugal, gosta de PIMBA. E o PIMBA, perdoem-me os visados, só existe porque vivemos num país com um atraso cultural muito grande! A crise que se vive não é só financeira: é também (e sobretudo!) de valores!
Naturalmente que a culpa desta situação não é dos locutores, porque estes apenas respondem a ordens superiores. Muitas vezes, em conversas que tínhamos com os microfones desligados, não continham a sua alegria por poder estar a falar de um projecto interessante, com letras e músicas pensadas, e não de projectos descartáveis. Conheci imensos que me contavam histórias hilariantes de "pseudo-cantores" que iam dar entrevistas e nem sabiam do que falar. Mas é assim a indústria...consome quem pode e depois deita fora!
Entre tanta gente interessante que conheci, nunca me hei-de esquecer de alguns episódios : da locutora morena e irreverente que chamava os piores nomes ao Presidente da Câmara enquanto este respondia às suas perguntas (sem que este ouvisse, como é óbvio!) ao locutor que nos deixou um recado na porta da rádio (que era na Vivenda do Padre) a dizer que tinha ido a um funeral e que, por isso, naquele dia, não haveria emissão; da entrevista em que, por só haver um microfone funcional, tive de o dividir com o entrevistador à entrevista em que, por falta de roupa lavada, tive de vestir uma "t-shirt" da Campanha Presidencial de 1986 do Freitas do Amaral e logo me questionaram sobre a minha côr política; da entrevista em que me pediram para imitar o Pauleta à entrevista em que a locutora era invisual e eu ficava mais nervoso do que ela sem saber se iria dar com os botões (apesar de no fim ter ficado provado que era uma profissional de topo!) ; da entrevista em que estavam 40 graus dentro do estúdio à entrevista numa Rádio em que, por não estar lá nenhum locutor, saltou para os microfones um Senhor Bonacheirão muito simpático, que, muito enrascado com os botões, nos disse que nos ia "desenrascar"!
Foram inúmeras as situações hilariantes porque passámos, mas todas elas fizeram parte de uma aventura fascinante que foi andar pelo país a falar de mim, da minha música, dos meus sonhos e dos Açores! Isso já ninguém me tira!

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