sábado, 27 de fevereiro de 2010

Impasse...

Regressar a São Miguel gera sempre um misto grande de sentimentos. Eu amo São Miguel! De paixão! Aquilo é tudo o que sempre sonhei e costumo dizer, em jeito de brincadeira, que gostava de ter uma porta no meu quarto que desse para todos os destinos do mundo e que me permitisse voltar ao fim do dia...mas a ciência ainda não evoluiu o suficiente para me concretizar esse desejo!
O facto é que qualquer artista com pretensões tem de sair para conseguir. Porque tudo se passa no Continente! Os castings, as Editores, os grandes centros de decisão...está tudo lá...ou cá, porque por agora estou na Capital!
Mas para perceber melhor o que se estava a passar comigo é importante contextualizar as coisas: já não estudava, não trabalhava, não tinha um rendimento que me permitisse ser independente e todo o dinheiro que ia conseguindo era para jogar Torneios em Lisboa. Resumindo, estava teso...sem dinheiro nenhum e sem vislumbrar uma possibilidade de o ter.
Assim cheguei a São Miguel enviei "e-mails" a alguns amigos a sondá-los no sentido de me poderem emprestar algum dinheiro. Confesso que hoje não o faria, mas na altura estava por tudo: achava mesmo que tinha de ir para Lisboa a qualquer custo. Na ausência de respostas, deram-me uma sugestão: organizar um Concerto onde apresentaria o meu reportório.Assim o fiz...
Num Teatro minúsculo situado muito perto da minha casa, com uma guitarra e um amplificador de um amigo, e um suporte de micro e um micro de outro, levei a cabo uma "espécie" de concerto...tudo muito rudimentar...as proprias pessoas foram convidadas muito em cima, o que fez com que a afluência não fosse grande...
Confesso que, passados sete anos (faz precisamente hoje sete anos!) olho com saudade para a forma descomplexada com que fazia as coisas...o importante era ter dinheiro para regressar a Lisboa, então organiza-se um Concerto e mete-se uns cds à venda no final...a tal maquete com três músicas que todos os presentes tiveram a gentileza de comprar...mas não posso deixar de fazer referência a um em especial: o Nuno Mota, meu treinador, que, num gesto de grande amizade, colocou uma pipa de massa dentro do "saco de esmolas" onde cada um dava o que queria pelo disco...pode parecer algo pesado pensar que me dava a estes embaraços, mas o próprio Concerto teve momentos embaraçantes. Não só para mim como para todos os presentes...a minha falta de à vontade em público era notória, a falta de material para levar a cabo algo com alguma qualidade era gritante e houve situações em que contei com a empatia dos presentes para não se rirem de mim...admito-o! Sem complexos! Somos o que fazemos e, no meu processo de crescimento, dei-me a estes episódios...talvez tenha sido o preço a pagar para prosseguir com as minhas aspirações...
A verdade é que, fechada a porta do teatro, tinha 200 euros, que numa primeira abordagem, serviriam para voltar a Lisboa e por lá ficar umas semanas...tinha mais dinheiro há sete anos, depois daquele concerto, do que tenho neste momento, com dois discos gravados...dá que pensar!
No dia 2 de Março estava de volta a Lisboa para...lutar! Simplesmente...lutar!

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